terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Minha mãe, Meu Tesouro - Introdução e Capitulo 1 Recordações

Queridos amigos,


Já tem algum tempo que eu escrevi um livro sobre a vida de minha mãe, então resolvi publicar aqui esta história para que cada um de vocês possam conhecer esta história. 
Seu nome:  Elza Fleury, faleceu a 27 de agosto de 1999 com a idade de 80 anos.
Abaixo passo a introdução deste livro, Minha Mãe - Meu Tesouro, feito com amor e carinho por aquela que era o meu porto seguro e o meu colo para deixar rolar as lágrimas que vinham devido as tristezas da vida e ai podia ouvir sua doce voz a me consolar e seu carinho a acalentar minha alma....


INTRODUÇÃO


“Minha mãe, meu tesouro” é um livro, no qual, eu procuro transmitir, a todos que o lerem, o resumo da vida de uma pessoa simples, lutadora, sofredora, mas amorosa e uma cristã exemplar. Deixou-nos um exemplo de fé, um testemunho de vida, de vitórias, de grande amor que sabia perdoar e chorar juntamente com as mesmas pessoas que a haviam magoado e lhe feito sofrer, as mesmas pessoas que haviam sido as causadoras de muitas de suas lágrimas.
Seu exemplo de cristã ainda me fala e seus ensinamentos ainda ecoam em meus ouvidos.
Como pessoa humana, teve erros, igual a todos nós, contudo soube levantar-se, deixando um testemunho vivo do amor de Deus, do socorro Divino e de uma confiança viva no Senhor.
Ela foi a minha atalaia, como ela mesma se intitulava. Foi através dela e de seus ensinamentos desde a minha mais tenra idade, e por sua vigilância e oração que eu conheci ao Senhor Jesus como meu Senhor e Salvador pessoal.
Os fatos que passo a narrar, são verdadeiros e envolveram a vida de minha mãe e também a minha. Não desejo ofender quem quer que seja e em determinados acontecimentos trocarei os verdadeiros nomes.
Estarei contando a história de minha mãezinha, apenas.

Ela era o meu tesouro!

Toda honra e glória, seja dada ao nosso Deus e Senhor, em nome de Jesus, o nosso Mestre.
                                                                 
         Ilaíde Lange Fleury



DEDICAÇÃO


A ela,
minha mãezinha amada,



que ora sussurro, em lágrimas,
a falta que me faz;
saudosa,
dedico o que aqui escrevo.







AO LEITOR



Também dedico ao amigo leitor, pois desejo que, através das histórias aqui descritas, o amigo possa alcançar vitória constante em sua vida.

Que também seja um cristão verdadeiro e que não se deixe vencer por nada neste mundo.

Se em seu caminhar, em seu viver diário encontrar incompreensões, ou houver desilusões e injustiças, lembre-se sempre que:
                
SÓ JESUS É PERFEITO

               Que Deus o abençoe!


AOS AMIGOS


Que de uma forma ou outra colaboraram, seja digitando, dando opiniões, dando direções, revisando, permitindo que eu pudesse publicar histórias de alguns familiares ou incentivando e vibrando comigo no decorrer de todo o processo deste livro.

A cada um agradeço do fundo de minh'alma, e louvo a Deus por sua vida e exemplo.

E a Deus, meu Senhor que me tornou possível compilar este livro.
A cada dia Deus se mostra suficiente, a cada dia Ele me fortalece.  Louvo ao Senhor por tudo que Ele tem me ofertado e por seu infinito amor, como tem me sustentado neste tempo e tem me guardado.  Sua graça nunca se retirou, e, mesmo que eu falhe, Ele permanece fiel.

Que Deus nos abençoe!

   CAPÍTULO I            RECORDAÇÕES DA INFÂNCIA


SEU NASCIMENTO


     Um dos maiores orgulhos de minha mãe, era com respeito o dia do seu nascimento, ela dizia de “boca cheia”:
      - Eu nasci no Dia da Bandeira!
      Ela amava, com muito orgulho, o nosso Brasil e era para ela um privilégio tremendo ter nascido no dia 19 de novembro. Seu respeito e amor eram sempre demonstrados e refutava com veemência qualquer  irreverência ao pendão nacional.
      Eram 2 horas da tarde, daquele festivo dia 19 de novembro de 1918, na cidade havia muita festa para comemorar o “Dia da Bandeira” mas lá na Fazenda Mandaguaí, no lar do seu Joanico, havia outra festa – a sua amada esposa, a dona Eliza, acabara de dar a luz ao seu segundo bebê. O Jairzinho, com 1 ano e 10 meses, ganhara uma irmãzinha que recebera o nome de Elza.
       A pequenina Elza, agora era mais alegria. Como seria a sua vida? O que seria no futuro? Só Deus conhecia a resposta.
       A Fazenda Mandaguaí está localizada há 348 Km de São Paulo, no Município de Santa Cruz do Rio Pardo próximo a Divisa com o Paraná.
         
      Que Mergulho !!!

       Naquele tempo o banho era feito em baciões. Um dia a sua mãe, após tomar seu banho resolveu descer até o rio para lavar umas roupas. Quando estava lá, sentiu um terrível pressentimento. Voltou correndo para sua casa e o que encontrou? A pequena Elza, enrolada em seus coeiros, havia mergulhado para dentro do bacião de banho que ficara ao lado da cama e estava se afogando... Como isto aconteceu? Ela estava bem enrolada em seus coeiros e, no entanto caíra dentro do bacião cheio de água... Graças a Deus que sua mãe “ouviu” a voz de Deus em seu coração.


 Saúde Precária

 Nos seus primeiros anos de vida, a mamãe ficou muito doente, ao ponto de ser desenganada por dois médicos. Ela havia adquirido a famosa doença “Jeca Tatu”, a icterícia, ou seja, o conhecido “Amarelão”.
 Eu nunca soube ao certo se fora esta doença ou outra que a fizera sofrer tanto na sua 1ª infância. Porém para Deus não há barreiras, não há impossíveis, e ninguém pode mudar os seus desígnios e o Senhor a curou.
     “Pata Choca”
 
Ficaram seqüelas que acompanharam pela vida a fora. A enfermidade que sofrera deixou marcas, não na sua aparência física mas no seu interior. Ela embora fosse muito inteligente, era mais lenta que as demais pessoas. Porém, quando era necessário esforçava-se por fazer tudo mais rápido. Procurava fazer tudo bem feito, era detalhista, sentia-se envergonhada se alguém lhe chamasse a atenção, por qualquer que fosse o motivo, mesmo que fosse uma simples repreensão. Sendo mais lenta que as demais pessoas, tornou-se alvo de chacotas, piadas e motivo de implicâncias. Então recebera um apelido que a fazia corar de vergonha, um apelido triste, era chamada de “Pata Choca”.
Sentia-se triste, humilhada e envergonhada com tal trato por parte de alguns membros de sua família. Isto fez com que ela se isolasse e se alto-defendesse como podia. Contudo continuava a amar a todos e a medida que podia, procurava exalar o “Bom perfume de Cristo”.
Certa vez, eu li um provérbio escrito na parede de uma casa em que minha mãe morou na cidade de Itanhandú - MG, que dizia:

 “Sê como o sândalo que perfuma o machado que o fere”.
   
  Como isto é difícil!

      GELO QUEIMA? 

A mamãe narrou-me um fato interessante que aconteceu com a sua irmã Vasni. Naquele tempo ainda não havia o delicioso sorvete, então quando havia chuvas de pedras a sua mãe ajuntava as pedrinhas para aproveitar Naquele dia quando as deliciosas pedrinhas caíram do céu, a pequena Vasni foi ajudar a sua mãe recolher os tais gelinhos. Então segurou bem firme dentro de suas mãozinhas uma bolinha de gelo, começou a doer a mãozinha e ela passou a sapatear e chorar dizendo:
─ Tá quente, mamãe, tá quente mamãe... tá quente...
─ Solte a pedrinha, Vasni. Solte a pedrinha... Ordenou a mãe, ela porém continuava a sapatear e implorar:
─ Tá quente, mamãe, tá quente,...
É claro que a sua mãe a socorreu. 
Vale aqui dizer que ela estava, aproximadamente, com 4 aninhos de vida.


Tristeza em Família

     Quando a mamãe estava para completar seus 7 anos nasceu a Cassinha. Menina inteligente e muito bonita, conforme o que me contava a mamãe.
         Ativa como era, prestava atenção em tudo a sua volta e depois surpreender a todos, procurando imitar os sons que ouvia. Certo dia um leitãozinho fuçava por perto, soltando os seus característicos sons e a pequenina Cássia ouvia com muita atenção. Mais tarde ela mais uma vez surpreendeu tentando soltar os “ronc-ronc” do leitãozinho.

      Um dia por volta dos seus 9 meses, o seu pai fôra a cidade para realizar o seu trabalho e lá na fazenda a pequenina Cássia, começou arder em febre. Nada do que se fizesse adiantava. Quando o seu pai retornou, nada mais podia fazer, a linda e inteligente criança, apenas com 9 meses, veio a falecer, ela foi morar nos céus, com Jesus. O tio Jerônimo, irmão de sua mãe, veio buscar o pequeno esquife para ser sepultado na Cidade de Santa Cruz do Rio Pardo. Desde então a cada vez que o tio Jerônimo vinha visitar a família, a Ondina que estava com 3 aninhos e que amava muito a sua irmãzinha, enfrentava o tio, toda ressentida dizendo:
─ “Puquêla titio... puquêla titio... levô a Cassinha pro pé do Deuso...” completava chorando.
     Com sua pouca idade não conseguia entender o que havia acontecido. Seu veemente protesto indicava sua tristeza e não conseguia compreender porque o seu tio levara a sua querida irmãzinha que ela tanto amava.
      Posso imaginar a tristeza que invadia a família. Como as palavras da pequena Ondina caíam profundamente no coração da sua mãe e do seu pai. A minha mãezinha que estava com 7 anos gravou tão profundo que nunca mais esqueceu.
      Agradecemos a Deus que hoje em dia, tudo tem melhorado e o socorro tem alcançado os mais carentes. Na maioria dos casos, o socorro tem chegado com tempo e se tem conseguido salvar vidas. Nos idos anos de 1925, aproximadamente, época em que a Cassinha faleceu, tudo era mais difícil e o socorro médico não estava ao alcance de todas as pessoas. Hoje, em nossos dias, a medicina está voltada para melhor atender a população, prestando pronto-socorro a todos e conseguindo salvar muitas vidas embora suas posses são quase inexistentes. Se a cidade é pequena e seus recursos são limitados, os pacientes são encaminhados a outros lugares, cidades e clínicas especializadas, deixando a disposição de tais pacientes, ambulâncias, passes de ônibus, etc... de maneira que tal pessoa possa conseguir o tratamento necessário. É verdade que ainda encontramos diversas dificuldades, porque faz tão pouco tempo que tem sido assim. Também ainda encontramos alguns profissionais que são movidos a sifrão ($), mas graças a Deus que eles são poucos e ainda vence o amor! 
         
       Fugindo da Senhora Morte
       
     Deus consolou o coração dos meus avós, concedendo uma nova vida no seio familiar. Eles foram agraciados com o nascimento de um novo bebê, desta vez um rapazinho, magrinho, porém muito esperto – magrinho é até hoje. No dia 12 de março, nasceu o Ittai. Conhecendo-o como conheço, imagino-o como menino... creio que era muito ativo e conforme as palavras da mamãe – “muito engraçadinho”!
      Quando ele estava com 14 anos, aproximadamente, adoeceu gravemente. Acamado, a família só esperava o momento quando fosse expirar, deixando este mundo para sempre. Estavam todos apreensivos, ao lado de seu leito, quando de repente, o Ittai some por debaixo do lençol e foi parar nos pés da cama, então, olhando para aqueles rostos espantados, deu uma risadinha marota como de quem fosse pego fazendo alguma travessura, disse:

     ─ Eu fugi da morte!

     Todos acharam que ele estivesse delirando, assustados com a escapada que dera por debaixo dos lençóis. Não, ele não estava delirando, o fato é que o tio Ittai está aí ainda hoje, sendo pai de 7 filhos e avô de 11 netos, e já é bisavô.
     Outro dia lhe perguntei sobre esta história e ele me respondeu que realmente vira a morte naquele dia. Porém o que vira, não era como a figura que conhecemos, toda de preto, sem face e com uma foice em suas mãos. O que ele viu foi uma linda moça de cabelos longos, que estava ao seu lado, para levá-lo.
         CAINDO DA JANELA
A Elza, agora com 11 anos, carrega em seus braços, o caçulinha. O Julinho nasceu prematuro mas venceu todas as barreiras e como todo bebê, era paparicado pela família inteira e por onde passasse, era festejado. Certo dia, quando a Elza estava junto a janela, carregando o Julinho, repentinamente ele dá um pulo e escapa dos braços de sua irmã e cai, de ponta-cabeça, para fora da janela. Num ímpeto e assustada, agarra-o pelo pezinho, segurando-o com firmeza, já do lado de fora da janela. Por pouco que o pequeno Julio não bate a cabeça no chão, o que provavelmente lhe seria fatal. Graças a Deus que o socorreu e ajudou a ambos.

 A Revolução

   Em 1932, estourou a revolução dos Confederados Paulistas e os Gaúchos. Bernardino de Campos e região, estava situada na Estrada de Ferro Sorocabana, e era caminho e ponto de parada para os trens que traziam as duas tropas inimigas. Podemos imaginar o reboliço que era na cidade pequena composta por pessoas simples, sitiantes, fazendeiros. O povo todo gostava de visitar as tropas guerreiras quando passavam, e era só ouvir o apito da Maria-fumaça, todos corriam para estação em grande expectativa, queriam ver os soldados. Adivinhem, quem estava entre eles? A jovenzinha Elza levando em seus braços, o caçulinha Julio. Nessa época a família estava morando em Bernardino de Campos – SP, lugar em que nasceu o caçula.
     A festa maior era feita para os Confederados Paulistas e a minha avó quando ouvia que eram eles que iriam passar, colocava uns calções vermelhos no Julinho, e então lá iam os dois irmãos passear na Estação, ver os soldadinhos. Quando estes viam aquele menininho de calções vermelhos, logo o tomavam em seus braços e o levavam para dentro do trem a fazer festa com toda a milícia. A cor vermelha era a cor do emblema deles. Então a mamãe terminava de me contar a história dizendo:
─ Então os soldados pegavam o Julinho e sumiam para dentro do trem com ele. E eu ficava na plataforma, esperando que me trouxessem o meu irmão de volta, com medo que eles sumissem com o meu irmão.

Cadê a Velhinha?

     Voltando um pouco no tempo, em Santa Cruz do Rio Pardo, havia um barracão que se localizava nas proximidades da cidade, construído pelos seus fundadores.
      De acordo com as lembranças de minha mãe, por volta de 1924, houve uma revolução liderada pelo senhor Isidoro Lopes conhecido como “bravo Isidoro Lopes”, o qual ameaçava vir contra a cidade de Santa Cruz do Rio Pardo. O recurso, então, era fugir para se abrigar para não perecer em tal investida. Todos fugiram a noite, a pé, sem se preocupar muito com as pessoas que seguiam junto. Iriam se abrigar no barracão e lá chegando abrigaram-se como podiam, quando deram por falta de uma senhora idosa que havia acompanhado. Procuraram-na por todo lado e não a encontraram. Ela não se encontrava em lugar algum... MISTÉRIO...! O recurso, então, era voltar pelo mesmo caminho que vieram, a procura da velhinha. A sua sobrinha, aflita, ainda bem jovem, chamava-a enquanto caminhavam:
      ─ Tia... Tia... aonde a senhora está? Tia... Tia...
       Com a escuridão da noite a procura era mais difícil e a jovem nervosa e já chorando clamava pela sua tia na esperança de ouvi-la responder e poder resgata-la com vida e saúde. Procuravam-na por todo caminho até que a encontraram... caída a beira do caminho... morta! Agora, toca todos voltarem para cidade a fim de fazer o velório da pobre anciã, que perdera a vida, tão tristemente. E a mamãe completava dizendo:
      ─ E no velório da velhinha, comemos os bolinhos que ela havia feito para levar...
      Triste ironia da vida! E o bravo Isidoro Lopes com a sua investida? Nada aconteceu! O saldo foi triste pois perdeu-se uma vida preciosa que poderia ainda existir por um bom tempo!


Um comentário:

  1. Meu pai foi Administrador da Fazenda Mandaguaí em 1924...Seu nome: Guglielmo Foti, de orígem italiana.Minha mãe: Germana Romeo.

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