quinta-feira, 17 de novembro de 2011

M.Mãe - M.Tes. - CAP.IX – ... - CRESCENDO A FAMÍLIA

VISITA DO ADVERSÁRIO


A mamãe começou a restabelecer-se.   Com as aplicações do medicamento endovenoso, Succil B12, e principalmente com o carinho do Senhor para conosco, a saúde da mamãe retornava.   A nossa situação era terrível.   Eu estava ingressando no 1º ano ginasial e precisava de uniforme e também de cadernos.  Porém nós não tínhamos como conseguir.  O uniforme a mamãe arrumou, não sei dizer como, mas ainda era necessário fazê-lo.  Então ainda na cama ela costurava a mão a saia azul marinho, de pregas.  A blusa branca com o emblema, não lembro ao certo como conseguimos, porém parece-me que foi comprada.  Assim comecei as aulas no Ginásio, no Colégio Estadual Regente Feijó, de Ponta Grossa – Paraná.  Estudava no período da tarde e usava umas folhas que a mamãe havia guardado há muito, pois não podia comprar cadernos.  Entrava às 13 horas, muitas vezes só com um copo de água com açúcar, porque em casa não tínhamos nada para comer.  Sapatos, era na base do ‘se-me-dão’, dependia do bom coração das pessoas  amigas ....  Assim foi aquele ano de 1962. 
 Diante de todo esse quadro, resultado de uma fofoca e calunias sofridas, quem é que vem nos visitar???   A causadora de toda esta luta e tristeza, a dona Elvira.
O que faríamos hoje?  Se fosse eu no lugar de minha mãezinha, qual sería a minha atitude para com esta senhora?  A mamãe a recebeu como amiga! Então ela começou a contar as lutas pelas quais estava passando, lutas terríveis, e a tristeza em que caíra a sua vida e seu lar, e ao contar chorava... A mamãe chorou com ela...e a consolou!!! Nossa amizade por ela continuou por algum tempo depois.   Não pudemos mais conversar com ela porque perdemos o contato. A dona Elvira e sua filha Ana sumiram, nunca mais as vimos.


UMA JOVEM SOFREDORA

Havia um bairro de periferia em nossa  cidade, que se chamava ‘Olho d’Água São João Maria’.    Lá havia uma família de três pessoas: uma senhora, um rapaz loiro e uma jovem mulata.   Esta senhora de nome Maria, criava este casal como filhos adotivos.  Nessa pequena família heterogênea, a jovem, por ser mulata, sempre levava toda a culpa dos erros cometidos embora fosse o seu irmão loiro que os cometia, e sofria as conseqüências, ao ponto de trazer em sua testa, para o resto de sua vida, uma cicatriz provocada por  um machado que havia sido atirado em sua direção, num momento de explosão de raiva, de sua mãe adotiva.   Se ela não tivesse se desviado, poderia ter sido fatal. Vale aqui lembrar que os dois jovens haviam sido adotados.    A jovem, que alem de levar toda a culpa dos erros de seu irmão, passou por outras humilhações aterradoras, que prefiro não descrever aqui.   Ela havia perdido a sua mãe genética quando estava ainda com  apenas 1 ano de idade, e seu pai impossibilitado de criar todos os filhos sozinho, deu para adoção a menorzinha.  De acordo com as suas lembranças, um de seus irmãos mais velhos, certo dia veio até a sua casa para falar com ela, mas não foi permitido.  Então ela viu a sua mãe adotiva conversar com ele, com a janela entreaberta, e ouviu  ele dizer que viera avisar que o seu pai havia falecido.  Desde então nunca mais soube nada deles, por toda a sua vida.
A nossa Pastora (Oficial Dirigente da nossa Igreja em Ponta Grossa – no Exército de Salvação denominamos Oficial Dirigente ao nosso Pastor), começou a fazer um trabalho evangelístico naquele Bairro e em suas visitações encontrou essa jovem, com 19 anos de idade, morando sozinha em um lugar perigoso como era aquele.   Por que sozinha?  A sua mãe, d. Maria Dias  havia falecido e seu irmão já havia saído de casa. Estava sozinha, triste, amargurada e sem rumo certo para a sua vida.  Aí então a Tenente Erda Kobs lembrou-se da Soldada Elza Fleury que vivia apenas com a sua filha de 12 anos de idade, e que poderia dar para aquela jovem solitária, um lar cristão  e uma nova família.


GANHEI UMA IRMÃ

Após conversar com a minha mãe, a Tenente trouxe a jovem solitária para morar conosco.   A mamãe  por sua vez, novamente expoz o seu grande coração e aceitou, de braços abertos, a presença desta jovem.  Não demorou que a Delair, (este era o seu nome), começasse a chamar a minha mãe de “MÃE”, e nós nos tratávamos de ‘MANA’.


PROBLEMAS DE RELACIONAMENTOS

Assim começamos a viver como se fôssemos uma família de três pessoas.  Os nossos problemas não diminuíram com a chegada da Delair.   Sua saúde era precária e seu coração estava muito magoado, o que fazia com que nosso relacionamento se tornasse bastante difícil.   Sem mais nem menos ela reagia como se a mamãe estivesse tratando-a mal, por causa da cor de sua pele. Isto não era verdade.  Procurávamos ajudá-la e aprendemos amá-la de todo o nosso coração, pois compreendíamos que sua atitude, por vezes rude, vinha de seus sofrimentos. Juntas íamos a Igreja, juntas íamos passear, juntas íamos viajar, juntas orávamos e assim foi seguindo a nossa vida.  O que muito dificultava a sua vida era a falta de estudo.  Ela não teve oportunidade de estudar, não havia aprendido nem escrever o seu nome, dificilmente conseguia parar em empregos. 

ESTUDANDO

Como eu estava dizendo, a Delair não teve oportunidade para estudar em sua casa.  A sua mãe não lhe permitia.  Nessa época eu estava cursando o ginasial e logo passei para o 2º grau, cursando o Científico.  Isto incentivou a “Dêla” a entrar na escola.  Ela mesma fez a sua matricula e começou a freqüentar as aulas.  Completou o primário mas não seguiu em frente e eu não sei dizer o porquê.
            
      CONSELHOS DE MÃE

Como ela tivesse aceito, a minha mãe como sua própria mãe, também buscava seus conselhos.  Lembro-me que às vezes quando arrumava namorado, logo trazia para que a mamãe o conhecesse.  Houve um que a mamãe logo percebeu que estava mal intencionado, enganando a boa fé da Delair.  Então teve uma conversa muito séria com tal pessoa , conversa franca de olho-no-olho, mostrando para ele que a Delair não estava sozinha, mas tinha uma família que a amava e que a defendia.  Nunca mais ele voltou.  Então a Delair, em tom de brincadeira, disse:
- Eh! Mamãe, eu trago meu namorado aqui para falar com a senhora .... e depois ele não volta mais...
- Sim minha filha, disse a mamãe, isso é porque ele não era sincero contigo. Se fosse ficaria feliz por ver quem tu és. Não desanime; Deus te dará aquele que será o teu marido.
Não demorou muitos dias para que ela tivesse a resposta de Deus.  Quando retornou da escola, veio falar com a mamãe.
- Mamãe,  a senhora tinha razão.  Sabe aquele rapaz que eu trouxe para senhora conhecer?  Pois eu o vi atravessando a rua com a mulher e seus filhos....a senhora tinha razão.
- Estás vendo filha? Não desanime, Deus te dará aquele  que será o teu marido.  Respondeu a mamãe.
             
*VIDA NOVA


Depois de algum tempo, na verdade alguns anos, a Delair resolveu ir embora para Curitiba tentar nova vida. Sabemos que nada foi fácil para ela.  Como levara algum tempo para entrar em contato conosco, a mamãe começou a se preocupar. Vivíamos a esperar todos os dias por noticias, por suas cartas que haveriam de nos trazer suas noticias, até que um dia a tão esperada cartinha da Delair, chegou.
Certo dia ela nos fez surpresa, vindo nos visitar e trazer uma boa nova: alguém desejava cortejá-la!
Será que o prezado leitor pode imaginar a resposta que ela deu? Pois foi a mesma que sempre dera anteriormente: ela só podería lhe responder depois que falasse com a sua mãe.....    Assim sendo a mamãe e eu fomos a Curitiba para conversar com o seu pretendente.


GANHEI UM CUNHADO


 O Sebastião, este era  o seu nome, de agora em diante tornava-se um candidato a entrar em nossa família.  Ele também pertencia a nossa Igreja, o Exército de Salvação, em Curitiba como um fiel servo do Senhor. 
No dia 03 de outubro de 1973 eles se casaram numa cerimônia simples, mas marcada pela presença de Deus. A Mamãe eu fomos testemunhas.

CRESCENDO A FAMÍLIA


Desta união nasceram duas meninas; sendo que a primeira nasceu a 19 de dezembro de 1975  e ganhou o nome de Raquel Elizabete e no dia 25 de dezembro de 1977 nasceu a mais nova que se chamou Ruth Eliza, a qual a mamãe criou até os 5 anos de idade, quando morava em Itanhandú, sul de Minas Gerais.   Quando o Sebastião e a Delair resolveram levá-la de volta para o convívio deles, a mamãe sofreu muito com a falta da Rutinha, embora nunca pensou em recusar entregá-la para os seus pais. Já sabíamos que eles iriam lavá-la um dia.   Por muitos anos a mamãe guardou a saudade doída que sentia de sua menininha.
Neste ponto será bom nós pensarmos um pouco em desilusões e separações que nos fazem chorar e sofrer.  Por que ainda sofremos quando nos desiludimos ?  Por que ainda sofremos quando nos separamos de quem nós amamos?
A Palavra de Deus nos diz: “ No mundo passais por aflições mas tende bom animo, Eu venci o mundo” (João 16:33)   Deus nos dá força quando confiamos Nele.  É verdade que por sermos humanos muitas vezes nos ressentimos, nos ofendemos, ficamos magoados e até adoecemos.  
Porém se confiamos em Deus, tudo venceremos.

M.Mãe - M.Tes. - CAP.IX – ..... - SÓ DEUS NÃO FALTOU

CORAÇÃO GRANDE

Um dia a nossa Oficial Dirigente (nomenclatura dada aos Pastores do Exército de Salvação quando estão a frente de uma de nossas Igrejas)chegou para minha mãe e pediu que ela ajudasse uma família em situação precária.   Era um casal com sua filha adolescente. Ele, o pai, havia sofrido AVC (derrame cerebral) e estava paralisado no seu lado esquerdo, acamado, e creio que o lado direito também estava um pouco afetado.   A família morava  em um lugar muito perigoso, a margem da estrada de rodagem, que denominávamos de Contorno, pois contornava a cidade para dar acesso a Rodovia que seguiria para o norte do Estado.  Ali expostos a ação de marginais, corriam grande perigo.   A mamãe permitiu que eles viessem morar conosco.  Vou chamar de ‘família Santos’, ele de seu João, a esposa de dona Elvira e a filha de Ana.  Ana era um ano mais velha do que eu, ela estava com 12 ou 13 anos.  Vejam portanto, que eu estou usando aqui nomes fictícios.  Desde então começamos ajudar a cuidar do seu João. Quando a Ana e eu ficávamos sozinhas em casa precisávamos atender o seu João, e então eu ajudava a Ana, erguê-lo para sentar-se na cama, e outras ajudas que fosse necessário.   Tinha prazer em poder ajudar, ainda mais quando estávamos sozinhas. Lembro-me do carinho que a mamãe dava a esta família, tanto que o seu João, mesmo doente como estava, sabia reconhecer. Com muita dificuldade de falar, mal balbuciava algumas silabas, contudo tentava chamar a minha mãe de madrinha.  Falava embrulhado, mas dava para entender .  Não me lembro quanto tempo durou esta situação. 
Certa noite, a dona Elvira veio aflita ao nosso quarto chamar pela mamãe porque o seu João estava chamando.   Ao chegar a beira do leito, ele balbuciou algo, que elas entenderam que ele pedia que a mamãe orasse por ele.  Mediante a confirmação por parte dele, a mamãe orou ao Senhor, entendendo que havia chegado o momento fatal.  Quando ela terminou de orar, ele deu a entender que ouvira a oração e partiu para os braços de nosso Senhor.  A mamãe ajudou em tudo que pôde. Fizemos o velório em casa.  As duas, mãe e filha,  ficaram morando conosco por mais algum tempo.  No principio de 1962, como fazíamos todos os anos, a mamãe eu fomos Santa Cruz do Rio Pardo, passar o ano novo e as nossas férias e ficamos 2 meses na casa de meus avós.   A dona Elvira e sua filha ficaram cuidando de nossa casa.

DESILUSÃO E CALUNIAS

Enquanto descansávamos em Santa Cruz, a dona Elvira em Ponta Grossa, preparava para a mamãe, o pagamento por todo o beneficio que recebera.  Preparou a retribuição por todo o carinho recebido, pela acolhida, pela confiança depositada.... Quando retornamos a Ponta Grossa, em dois dis elas se mudaram de nossa casa.  A mamãe estranhou esta atitude.  Não demorou para que soubesse os motivos de tal atitude. Quando a mamãe saía à rua, ouvia história terríveis por pessoas  que ela nunca vira antes.  Fomos a casa da vó Francisca e aquela noite pernoitamos com ela e no dia seguinte a mamãe  foi ajudar na limpeza da casa.  Pegou uma vassoura e estava varrendo os cômodos todos quando chegou perto da porta do quarto em que se hospedava uma senhora, desconhecida para nós.  Esta hospede da vó Francisca, se pôs a porta de seu quarto e com os braços abertos apoiando as mãos nos umbrais da porta, fechando desta forma a passagem, disse para a mamãe:
- Aqui a senhora não entra.
Que estranho essa atitude desta  desconhecida... “Bem” pensou a mamãe, “melhor para mim, um cômodo a menos”. E então disse para tal senhora o que havia pensado. Quando viemos embora para a nossa casa, a tal hospede virou para a vó Francisca, e quis cobrar da vó, o que ela falava sobre a mamãe:
-É essa a tal “nhá Erza” que a senhora tanto fala?! Então a senhora não sabe quem ela é?!! ....e completou falando horrores contra a mamãe e a nossa moral.   A vó Francisca ficou tão zangada com a sua hospede que a mandou embora e nunca mais vimos tal pessoa.
Também a mamãe encontrou-se com Éclair, uma jovenzinha de 14 anos, filha da tia Esbelta (mais uma de minhas tias de consideração),  que a chamava de tia e lhe tomava a benção todas as vezes que a encontrava, que lhe disse:
- Tia, aquela mulher que mora na sua casa, não presta!
- Por que, Clara? Perguntou a mamãe, e ela respondeu:
- Porque ela falou muito mal da senhora e da Tide.  Ela falou......   Assim a Clara contou tudo o que a dona Elvira falara e como ela fazia para convencer as pessoas que estava falando a verdade.  Ela convidava as pessoas para a seguirem até a nossa casa para mostrar com gestos, o quanto nós duas éramos de baixo caráter, e adúlteras.  Ainda para não ficar dúvidas de suas ‘verdades’, ela completava:
- Para provar que falo a verdade, elas chegam num dia e em dois dias eu me mudo daqui.
O pagamento por ajudar a família Santos, chegou, muito amargo e apimentado.....!



TRISTEZA E ENFERMIDADE


Havia em Ponta Grossa, um rapaz que conhecíamos desde menino. Ele era neto da vó Conceição, que já me referi anteriormente.  Ele sempre vinha nos visitar, seu nome, Nelson Kovalic.  Enfermeiro, como era, foi a pessoa certa naquele momento crítico.  Sabendo que já havíamos voltado de nossa viagem, veio naquele final de dia, para nos fazer a sua visita amiga.  Então a mamãe começou a abrir seu coração e contar para ele, toda a história, e começou a chorar muito.   Nesse momento de grande tristeza em que a desilusão tomara conta, em seu estado nervoso, a mamãe ia perdendo os sentidos num desmaio que comprometeria para sempre o seu estado de saúde. Prontamente o Nelson a socorreu, não permitindo que isto acontecesse.  Desse momento em diante ela ficou acamada.  Durante a semana seguinte ficou em estado dormente, com os olhos semicerrados e ao todo ficou acamada por 2 meses.   Nesse ínterim, o Nelson trouxe um médico para consultá-la, o doutor Russo, que dentre os medicamentos que receitou, havia um que sería endovenoso, vitamina para os nervos, que se chamava ‘Succil B12’. Durante esse tempo de enfermidade, todas as nossas finanças, que já eram escassas, se foram e não tínhamos aonde correr.   Todas as freguesas que deviam para a minha mãe, nos pagaram e agora nada mais tínhamos para receber....
Eu fui a Farmácia, no centro da cidade, para saber o preço de tal medicamento = cada ampola custava Cr$ 2,00 (dois cruzeiros).  Para que o amigo tenha idéia do valor proporcional, vale aqui dizer que quando a mamãe, ainda em recuperação, começou a trabalhar no Hospital São Lucas de Ponta Grossa – PR, seu salário era Cr$ 4,00 (quatro cruzeiros) por mês.   Ela precisava tomar varias ampolas deste medicamento, mas..., como? De que maneira iríamos conseguir adquirir tal remédio, se não tínhamos dinheiro, nem para uma ampola?  Quando ela pôde, escreveu aos seus pais em Santa Cruz do Rio Pardo – SP,  e o seu irmão, o Ittai, que trabalhava na área da Saúde Pública, conseguiu uma caixinha quadrada (embalagem de giz escolar, de 12 x 12  x 12 cm de tamanho, mais ou menos), cheia com as tão necessárias ampolas, de Succil B12. Era o suficiente para que ela se restabelecesse. 
Louvo a Deus por ter guardado a mamãe naquele dia, fazendo com que o Nelson lhe assistisse, evitando que ela perdesse os sentidos.   Este ato evitou um mal maior.  Se não fosse o pronto atendimento do Nelson, três seriam os resultados possíveis: ou ela teria morrido, ou teria ficado paralítica para o resto de sua vida, ou teria enlouquecido.  Não sei qual o nome da sua enfermidade, o que se comentou foi que ela fora acometida por 5 doenças nervosas, sendo que uma delas atingiu o neurônio.

SÓ DEUS NÃO FALTOU


Eu fazia tudo que eu podia pela mamãe.  Foram dois meses terríveis, meses que prenderam a mamãe no leito.  Durante esse tempo eu cozinhava, com dificuldade, porque todas as coisas foram acabando.  Quando conseguíamos um pouco de fubá, eu procurava fazer um angú, mal temperado e mal cozido. 
 Por que mal cozido?
Nós não tínhamos fogão a gás, o nosso fogão era de lenha, porém muito ruim. Ele já havia sofrido a queda de 2 raios em anos distantes, e nunca foi corrigido, então para se fazer fogo era muito difícil, mais fazia fumaça do que realmente, fogo. E, diga-se de passagem, eu era uma péssima foguista, e ainda sou.  Aí a panela se escondia entre a fumaça. Agora imagine uma comida feita dessa forma e mal temperada... Alguns vizinhos, de vez em quando me chamavam, para nos dar uma travessa do que sobrou no domingo: como era gostoso!
Outras vezes saia a catar na beira da mata vizinha, alguma verdura comestível, o que era acrescentado à sopinha que eu estava a preparar.  Leite e carne eram alimentos de luxo e levava quase o ano todo para que nós pudéssemos comprar estes tão almejados e necessários alimentos.
Um dia, nada mais tínhamos para cozer e eu precisava dar o que comer para a mamãe que estava doente.    Havia um pouco de farinha de trigo.  Então decidi fazer uma sopa de trigo.  Se esta sopa for bem feita, fica muito gostosa.  Para que ela fique saborosa temperamos a água com o que desejamos para que se faça um deliciosa sopa.   Em um prato ou tigela pomos a farinha de trigo a gosto (aproximadamente 1 e ½ xícara) e acrescentamos ovos inteiros e temperos com sabores, a gosto.  Então, mistura-se tudo até que dissolva bem a farinha de trigo. A massa deve ficar bem pastosa, como um mingau bem grosso, ao ponto de pingar bolas da colher.  Não fazer bolas muito grandes, apenas a ponta colher, como se fosse fazer uns bolinhos fritos (bolinhos de chuva).  Quando o caldo estiver fervendo, não apenas fazendo bolinhas, mas pulando mesmo, então com a colher vai pingando esse massa na fervura.  A medida que vai caindo as bolinhas de trigo na panela, elas vão cozinhando, no final fica semelhante a inhoque.   Fica muito saborosa. 
Pois bem, eu queria fazer essa sopa para a minha mãe, mas não tinha temperos, ovos, ou outra mistura qualquer. Só tínhamos sal, e um pouco de banha de porco.
Coloquei a panela no ‘fogo’. Temperei a água e esperei ferver, mas nunca fervia.... Preparei a mistura, ou melhor, o ‘mingau’ com toda a farinha de trigo que tínhamos em casa temperada apenas com sal.   Quando a água resolveu ferver comecei a pingar a mistura na panela, contudo a ela parou de ferver, e o fogo....bom o fogo, como já disse anteriormente, era só fumaça. Ao fim de tudo, saiu uma gororoba que mais parecia um mingau embolotado do que uma sopa de trigo.  Quando o caldo não está fervendo bem, ao adicionar os pingos da mistura de farinha de trigo, eles se dissolvem parcialmente formando um mingau mal feito.
Depois de tudo, o que eu fiz, deu apenas um prato de sopa, que eu levei para minha mãezinha, na cama, com muito prazer, o que ela saboreou como se fosse a melhor sopa que já havia deglutido.  Dizia estar saborosa.   Eu fiquei encostada a porta do quarto vendo-a se alimentar, satisfeita porque ela podia comer.  Quando ela estava terminando de saborear aquela gororoba que fiz, olhando para mim, lembrou-se então de me perguntar se tinha sobrado para mim. Não, não havia sobrado nada. Só consegui fazer aquele prato de comida e não havia mais nada para cozinhar.  Ela ficou triste porem não me lembro que eu senti fome.   Deus me sustentava. 
Em casa nos faltava tudo, só Deus não nos faltava.  Ele sempre cuidou de nós e nunca deixou que passássemos o dia em jejum, sem ter alguma coisa para comer.
 “Não fosse o Senhor, que esteve ao nosso lado, Israel que o diga; não fosse o Senhor que esteve ao nosso lado quando os homens se levantaram contra nós, e nos teriam engolidos vivos, quando a sua ira se acendeu  contra nós; as águas  nos teriam submergido, e sobre a nossa alma  teria passado a torrente; águas impetuosas teriam passado sobre a nossa alma.  Bendito o Senhor, que não nos deu por  presa dos dentes deles.  Salvou-se a nossa alma, como um pássaro do laço dos passarinheiros; quebrou-se o laço, e nós nos vimos livres.  O nosso socorro está em o nome do Senhor, criador do céu e da terra.” (Salmo 124:1 a 8)
A Palavra de Deus é fiel.  O Senhor não permite  que as provações sejam maiores do que  as nossas forças.  O Senhor põe limite para as provações que vem sobre nós.  Aqui também Ele cuidou de nós e não permitiu que a nossa alma fosse atingida.  Se você ler a história de Jô, verá que  satanás pede oportunidade de nos provar e Deus, ao permitir, lhe dá limites intransponíveis.  “Disse o Senhor a satanás: eis que tudo quanto ele tem está em teu poder: somente contra ele não estendas a tua mão.”(Jó 1:12) Depois de destruir tudo que Jó possuía, tirar a vida de seus filhos no mesmo dia, não satisfeito, satanás queria mais, queria que Jó blasfemasse contra o Senhor Deus, então retornou a presença do Senhor e pediu mais:  “Então, satanás respondeu ao Senhor: Pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida.  Disse o Senhor a satanás: Eis que ele está em teu poder; poupa-lhe a vida.” (Jó 2: 4 e 6) E se você desejar saber mais sobre a história de Jó, verá como ele sofreu  com tumores malignos e fétidos.  Contudo não blasfemou.  Sofreu muito, mas o Senhor ao fim de tudo devolveu-lhe em dobro tudo que possuía antes de sua tão grande provação.  “Sê fiel até a morte e...” (Apocalipse 2:10b ) Devemos ser fiéis ao Senhor.  Os homens só nos ferirão, mas o Senhor nos curará.  “Sê fiel” é a ordem do Senhor e é o que interessa.  A mamãe  e eu sofremos muito, as duras provações  mas o Senhor nunca nos abandonou.   Se passámos por isso, foi porque o Senhor achou que podíamos suportar.
Deus é fiel! Ele nunca nos faltou!!! 

sábado, 12 de novembro de 2011

M.Mãe - M.Tes. - CAP.IX – ... - LIÇÕES OBJETIVAS


LIÇÕES OBJETIVAS

O amigo sabe o que é uma lição objetiva? É tirar lições espirituais, ensinamentos de objetos, como por exemplo: um lápis.
O que o lápis pode nos ensinar.  Com um lápis você pode escrever coisas ruins, maldades, sujeiras, ou coisas boas, que edificam, que abençoam, louvores, palavras de carinho, etc....  mas, se o lápis estiver sem ponta não poderemos escrever nada com ele.  Então, qual a lição que poderemos aprender?
1º Se o lápis estiver sem ponta nada poderemos escrever – sem Jesus em nossa vida, nada poderemos ‘escrever’, isto é, seremos nada, um ‘zero a esquerda’.
2º Com um lápis em mãos, só nós decidiremos o que vamos escrever: se coisas boas ou ruins.  Portanto, só nós poderemos decidir o que faremos de nossa vida;  se vamos escrever coisas belas ou vamos escrever derrotas, maldades, e tristezas.   Se estivermos nas mãos de Jesus, com Ele no coração, nossa vida tem sentido e poderemos escrever só coisas boas contudo se estivermos sem Jesus, e nas mãos do inimigo, então só vamos escrever destruição, coisas ruins, motivos de muitas lágrimas e tristezas.... O que vamos escolher? Um lápis sem ponta de nada presta, uma vida sem Jesus não serve para nada!  Um lápis que só escreve coisas ruins é igual a uma vida sem Jesus, mas pode se converter e deixar o Senhor transformar seu coração e começar a escrever coisas lindas e abençoadoras em sua vida. Escrever somente o que é belo, em especial, as bênçãos de Deus. Basta entregar seu coração a Jesus e deixar que Ele mude a sua vida.   Que tipo de lápis é você?
Certa vez a mamãe levou  para a Reunião ao Ar Livre, um ovo e enquanto falava o ovo escorregou de sua mão  e caiu no chão ...Uh !!!!!   Todos se assustaram ....porém o ovo estava cozido e preparado para este fim.  A lição que ela nos trouxe – Se nós não estivermos bem firmes e seguros nas mãos de Deus, poderemos cair  e não teremos salvação.  Há que estar bem seguro nas mãos de Deus.
Prezado amigo, olhe a sua volta agora.  O que você vê ? Uma cadeira boa ou com os pés quebrados?  Um brinquedo abandonado? Uma chave, seja de sua casa  ou do seu carro, ou alguma chave esquecida há muito tempo?  O que você vê a sua volta?  Pare um pouco.  Pense.....pense.....pense.....  O que estes objetos que você esta vendo,  podem  dizer para você?  Qual deles te chama mais atenção?  Não te dizem nada?!   Bom, em primeiro lugar  decida para que serve:  uma cadeira: para que serve? Sentar? É  claro. Porém nós as usamos também para outra finalidades que não são sua finalidade, como por exemplo, usá-las para subir, para alcançar algo muito alto – serve como escada.  Serve também como apoio para alguma coisa que precisamos, etc...    Quais são os tipos?  Largas, acolchoadas, confortáveis, de madeira, de palhinha, com braços, etc....   Sua vida pode ser igual a essa cadeira.  Muitas pessoas precisam de você e apóiam suas vidas em sua vida, não importa que tipo de pessoa é você.   Agora imagine essa cadeira  com uma perna quebrada.  Já pensou o desastre que será?  Já pensou a sua vida sem Jesus? Como poderá servir de apoio seguro se a tua vida está sem o verdadeiro apoio que é Jesus? Conserte agora!
Imagine uma lanterna sem pilhas, é o mesmo que uma vida sem Jesus. Que Deus fale hoje ao teu coração


A BANDEIRA SALVACIONISTA


Referi-me anteriormente, a bandeira do Exército de Salvação, por algumas vezes.  Ela é muito bonita e simbólica.  Traz as cores oficiais do Exército de Salvação: azul, vermelho e amarelo.    Observe a figura.
 AZUL – representa a pureza da                      alma.
VERMELHO – representa o sangue de Cristo que nos lava de todo o pecado.
AMARELO – o fogo do Espírito Santo que nos purifica e santifica.
ESTRELA – no centro da bandeira representa o sol da justiça de Deus.
EMBLEMA – o emblema “SANGUE E FOGO”,  o sangue de Jesus derramada por nós na cruz e o fogo do Espírito Santo que nos purifica do pecado.  Temos um moto corrente em nosso meio, usamos a expressão: “tal pessoa é ‘sangue e fogo’ ”.  Isto quer dizer que ela é muito animada na Obra do Senhor, uma salvacionista exemplar.  Também para exemplificar o nosso amor e carinho pelo Exército de Salvação, dizemos que o nosso sangue é “azul – vermelho e amarelo”.  È como se o Exército corresse em nossas veias.  Primeiro amamos ao Senhor Jesus, depois, em segundo lugar amamos a Obra Salvacionista.

O ESCUDO SALVACIONISTA

A corôa = representa a corôa de gloria que receberemos nos céus
O circulo = o sol da justiça de Deus
O “S” e a cruz entrelaçados = a salvação através do sacrifício de Cristo na cruz.
As espadas = representam a Palavra de Deus.
Os pontos = são os tiros das verdades.
O lema ‘Sangue e Fogo’ = sangue de Jesus que foi derramado na cruz para que fossemos salvos de nossos pecados e ‘FOGO’ do Espírito Santo que nos santifica.

Os nossos símbolos são o resumo de nossas doutrinas.


PERCURSO ACIDENTADO


Nós sabemos que o homem é falho por mais que deseje fazer o seu melhor.  O que vou aqui narrar, não é para desabonar quem quer que seja ou mesmo manchar esta magnífica Obra.   Longe de mim tal coisa.   Como me referi na Introdução deste, estou contando a história de minha mãe. Por favor, não julguem diferente.
Esse espírito ativo e alegre de minha mãe, nem sempre  foi bem recebido.  Por várias vezes foi incompreendido.  O líder local algumas vezes, a impediu de fazer determinados trabalhos, por não compreendê-la, ou porque achava que não deveria fazer sem uma razão aparente ou simplesmente porá cortar.  Entristecida, ela deixava passar.  Deixava nas mãos de Deus e nunca a ouvi falar mau de ninguém.  Mesmo assim não faltava às Reuniões (cultos), podia chover ou fazer sol. Podia não comparecer ninguém, lá estava ela e me levava também.  O nosso amigo e irmão na fé, o sargento Aníbio Zacarias Rosas, foi testemunha destas ocasiões.







Certa vez eu cheguei em casa, chorando, porque uma pessoa havia me falado, que, iriam falar ao Juiz de Menores em Ponta Grossa, para me tirar de minha mãe porque diziam que ela não era digna de me criar, e acrescentando eu disse que não iria mais ajudar essa pessoa.  A mamãe se limitou a me consolar, tentou amenizar o meu espírito, procurando desculpas para tal pessoa, não foi tirar satisfações e mais uma vez entregou a Deus a dor que sentiu em sua alma.  A mamãe nunca desanimou diante de nenhum obstáculo.  Sempre lutou, com muito amor pela sua Igreja, e passou para mim esse amor e aprendi com ela, não olhar para o ser humano, se não somente para Jesus, o Senhor de nossa Igreja.  Ela envergava o seu uniforme por onde quer que fosse, as vezes eu achava desnecessário isso, porém para ela, era o maior prazer.  Por outro lado, houveram muitos outros que valorizaram o seu trabalho e davam-lhe oportunidade de dirigir os cultos, trazer as mensagens da Palavra de Deus, testemunhar, etc..., o que ela fazia com muito amor .  O  homem é falho mas Deus é perfeito.  Se nós não quisermos encontrar problemas e adversidades, então devemos nos fechar  como ostras, em nossos próprios cantos e nos isolar do mundo.  Mas não é assim, o homem falha mas o Senhor é fiel.  A Casa de Deus é para todos e se fossemos infalíveis não precisaríamos de Deus.  Muitos existem que se consideram os perfeitos e igreja nenhuma lhe serve porque todas tem defeito, pessoas dignas de pena ... Não é de nossa competência julgar este ou aquele.  É de nosso dever ser o exemplo dos fiéis.  O Senhor irá cobrar de nós as nossas atitudes e não as atitudes de nosso pastor ou irmão de fé.  Não, eu não sou perfeita, nem minha mãezinha o era, por isso eu sou humana e preciso de Jesus para me ajudar a ser o melhor que eu puder. A todos queridos oficiais, pastores do Exército de Salvação que passaram por nossa Igreja em Ponta Grossa – PR, elevo a Deus um tributo de gratidão, tenha sido ele ou ela uma pessoa que soube nos compreender ou não, não interessa, o que me interessa que de todos eu tenho boas lembranças. As adversidades que enfrentamos me ensinaram e me fizeram mais forte. Não estou servindo ao homem, sirvo ao meu Mestre e Senhor de minha vida, Jesus. Hoje não temo a incompreensão, é verdade que dói na alma, mas sei enfrentá-la.  Posso chorar, como o faço agora, mas sei que meu Jesus me consola e me ama. Um dia entregarei a Ele tudo isso, quando em glória, Jesus me receber lá no céu.  Tudo isto aqui na terra será nada diante de tamanha recompensa e eu estarei lá com o Senhor.
 O exemplo de minha mãe ainda fala ao meu coração, e haverei de segui-lo até o fim de minha vida.