quinta-feira, 17 de novembro de 2011

M.Mãe - M.Tes. - CAP.IX – ... - CRESCENDO A FAMÍLIA

VISITA DO ADVERSÁRIO


A mamãe começou a restabelecer-se.   Com as aplicações do medicamento endovenoso, Succil B12, e principalmente com o carinho do Senhor para conosco, a saúde da mamãe retornava.   A nossa situação era terrível.   Eu estava ingressando no 1º ano ginasial e precisava de uniforme e também de cadernos.  Porém nós não tínhamos como conseguir.  O uniforme a mamãe arrumou, não sei dizer como, mas ainda era necessário fazê-lo.  Então ainda na cama ela costurava a mão a saia azul marinho, de pregas.  A blusa branca com o emblema, não lembro ao certo como conseguimos, porém parece-me que foi comprada.  Assim comecei as aulas no Ginásio, no Colégio Estadual Regente Feijó, de Ponta Grossa – Paraná.  Estudava no período da tarde e usava umas folhas que a mamãe havia guardado há muito, pois não podia comprar cadernos.  Entrava às 13 horas, muitas vezes só com um copo de água com açúcar, porque em casa não tínhamos nada para comer.  Sapatos, era na base do ‘se-me-dão’, dependia do bom coração das pessoas  amigas ....  Assim foi aquele ano de 1962. 
 Diante de todo esse quadro, resultado de uma fofoca e calunias sofridas, quem é que vem nos visitar???   A causadora de toda esta luta e tristeza, a dona Elvira.
O que faríamos hoje?  Se fosse eu no lugar de minha mãezinha, qual sería a minha atitude para com esta senhora?  A mamãe a recebeu como amiga! Então ela começou a contar as lutas pelas quais estava passando, lutas terríveis, e a tristeza em que caíra a sua vida e seu lar, e ao contar chorava... A mamãe chorou com ela...e a consolou!!! Nossa amizade por ela continuou por algum tempo depois.   Não pudemos mais conversar com ela porque perdemos o contato. A dona Elvira e sua filha Ana sumiram, nunca mais as vimos.


UMA JOVEM SOFREDORA

Havia um bairro de periferia em nossa  cidade, que se chamava ‘Olho d’Água São João Maria’.    Lá havia uma família de três pessoas: uma senhora, um rapaz loiro e uma jovem mulata.   Esta senhora de nome Maria, criava este casal como filhos adotivos.  Nessa pequena família heterogênea, a jovem, por ser mulata, sempre levava toda a culpa dos erros cometidos embora fosse o seu irmão loiro que os cometia, e sofria as conseqüências, ao ponto de trazer em sua testa, para o resto de sua vida, uma cicatriz provocada por  um machado que havia sido atirado em sua direção, num momento de explosão de raiva, de sua mãe adotiva.   Se ela não tivesse se desviado, poderia ter sido fatal. Vale aqui lembrar que os dois jovens haviam sido adotados.    A jovem, que alem de levar toda a culpa dos erros de seu irmão, passou por outras humilhações aterradoras, que prefiro não descrever aqui.   Ela havia perdido a sua mãe genética quando estava ainda com  apenas 1 ano de idade, e seu pai impossibilitado de criar todos os filhos sozinho, deu para adoção a menorzinha.  De acordo com as suas lembranças, um de seus irmãos mais velhos, certo dia veio até a sua casa para falar com ela, mas não foi permitido.  Então ela viu a sua mãe adotiva conversar com ele, com a janela entreaberta, e ouviu  ele dizer que viera avisar que o seu pai havia falecido.  Desde então nunca mais soube nada deles, por toda a sua vida.
A nossa Pastora (Oficial Dirigente da nossa Igreja em Ponta Grossa – no Exército de Salvação denominamos Oficial Dirigente ao nosso Pastor), começou a fazer um trabalho evangelístico naquele Bairro e em suas visitações encontrou essa jovem, com 19 anos de idade, morando sozinha em um lugar perigoso como era aquele.   Por que sozinha?  A sua mãe, d. Maria Dias  havia falecido e seu irmão já havia saído de casa. Estava sozinha, triste, amargurada e sem rumo certo para a sua vida.  Aí então a Tenente Erda Kobs lembrou-se da Soldada Elza Fleury que vivia apenas com a sua filha de 12 anos de idade, e que poderia dar para aquela jovem solitária, um lar cristão  e uma nova família.


GANHEI UMA IRMÃ

Após conversar com a minha mãe, a Tenente trouxe a jovem solitária para morar conosco.   A mamãe  por sua vez, novamente expoz o seu grande coração e aceitou, de braços abertos, a presença desta jovem.  Não demorou que a Delair, (este era o seu nome), começasse a chamar a minha mãe de “MÃE”, e nós nos tratávamos de ‘MANA’.


PROBLEMAS DE RELACIONAMENTOS

Assim começamos a viver como se fôssemos uma família de três pessoas.  Os nossos problemas não diminuíram com a chegada da Delair.   Sua saúde era precária e seu coração estava muito magoado, o que fazia com que nosso relacionamento se tornasse bastante difícil.   Sem mais nem menos ela reagia como se a mamãe estivesse tratando-a mal, por causa da cor de sua pele. Isto não era verdade.  Procurávamos ajudá-la e aprendemos amá-la de todo o nosso coração, pois compreendíamos que sua atitude, por vezes rude, vinha de seus sofrimentos. Juntas íamos a Igreja, juntas íamos passear, juntas íamos viajar, juntas orávamos e assim foi seguindo a nossa vida.  O que muito dificultava a sua vida era a falta de estudo.  Ela não teve oportunidade de estudar, não havia aprendido nem escrever o seu nome, dificilmente conseguia parar em empregos. 

ESTUDANDO

Como eu estava dizendo, a Delair não teve oportunidade para estudar em sua casa.  A sua mãe não lhe permitia.  Nessa época eu estava cursando o ginasial e logo passei para o 2º grau, cursando o Científico.  Isto incentivou a “Dêla” a entrar na escola.  Ela mesma fez a sua matricula e começou a freqüentar as aulas.  Completou o primário mas não seguiu em frente e eu não sei dizer o porquê.
            
      CONSELHOS DE MÃE

Como ela tivesse aceito, a minha mãe como sua própria mãe, também buscava seus conselhos.  Lembro-me que às vezes quando arrumava namorado, logo trazia para que a mamãe o conhecesse.  Houve um que a mamãe logo percebeu que estava mal intencionado, enganando a boa fé da Delair.  Então teve uma conversa muito séria com tal pessoa , conversa franca de olho-no-olho, mostrando para ele que a Delair não estava sozinha, mas tinha uma família que a amava e que a defendia.  Nunca mais ele voltou.  Então a Delair, em tom de brincadeira, disse:
- Eh! Mamãe, eu trago meu namorado aqui para falar com a senhora .... e depois ele não volta mais...
- Sim minha filha, disse a mamãe, isso é porque ele não era sincero contigo. Se fosse ficaria feliz por ver quem tu és. Não desanime; Deus te dará aquele que será o teu marido.
Não demorou muitos dias para que ela tivesse a resposta de Deus.  Quando retornou da escola, veio falar com a mamãe.
- Mamãe,  a senhora tinha razão.  Sabe aquele rapaz que eu trouxe para senhora conhecer?  Pois eu o vi atravessando a rua com a mulher e seus filhos....a senhora tinha razão.
- Estás vendo filha? Não desanime, Deus te dará aquele  que será o teu marido.  Respondeu a mamãe.
             
*VIDA NOVA


Depois de algum tempo, na verdade alguns anos, a Delair resolveu ir embora para Curitiba tentar nova vida. Sabemos que nada foi fácil para ela.  Como levara algum tempo para entrar em contato conosco, a mamãe começou a se preocupar. Vivíamos a esperar todos os dias por noticias, por suas cartas que haveriam de nos trazer suas noticias, até que um dia a tão esperada cartinha da Delair, chegou.
Certo dia ela nos fez surpresa, vindo nos visitar e trazer uma boa nova: alguém desejava cortejá-la!
Será que o prezado leitor pode imaginar a resposta que ela deu? Pois foi a mesma que sempre dera anteriormente: ela só podería lhe responder depois que falasse com a sua mãe.....    Assim sendo a mamãe e eu fomos a Curitiba para conversar com o seu pretendente.


GANHEI UM CUNHADO


 O Sebastião, este era  o seu nome, de agora em diante tornava-se um candidato a entrar em nossa família.  Ele também pertencia a nossa Igreja, o Exército de Salvação, em Curitiba como um fiel servo do Senhor. 
No dia 03 de outubro de 1973 eles se casaram numa cerimônia simples, mas marcada pela presença de Deus. A Mamãe eu fomos testemunhas.

CRESCENDO A FAMÍLIA


Desta união nasceram duas meninas; sendo que a primeira nasceu a 19 de dezembro de 1975  e ganhou o nome de Raquel Elizabete e no dia 25 de dezembro de 1977 nasceu a mais nova que se chamou Ruth Eliza, a qual a mamãe criou até os 5 anos de idade, quando morava em Itanhandú, sul de Minas Gerais.   Quando o Sebastião e a Delair resolveram levá-la de volta para o convívio deles, a mamãe sofreu muito com a falta da Rutinha, embora nunca pensou em recusar entregá-la para os seus pais. Já sabíamos que eles iriam lavá-la um dia.   Por muitos anos a mamãe guardou a saudade doída que sentia de sua menininha.
Neste ponto será bom nós pensarmos um pouco em desilusões e separações que nos fazem chorar e sofrer.  Por que ainda sofremos quando nos desiludimos ?  Por que ainda sofremos quando nos separamos de quem nós amamos?
A Palavra de Deus nos diz: “ No mundo passais por aflições mas tende bom animo, Eu venci o mundo” (João 16:33)   Deus nos dá força quando confiamos Nele.  É verdade que por sermos humanos muitas vezes nos ressentimos, nos ofendemos, ficamos magoados e até adoecemos.  
Porém se confiamos em Deus, tudo venceremos.

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