O AMOR CHEGA
Meu pai = Olaide Lange |
No Café do Ponto Azul, os taxistas que faziam ponto na lateral da Praça Barão de Guaraúna, iam tomar seu café e jogar conversa fora, enquanto descansavam e esperavam 0novos passageiros. Dentre eles havia um jovem, de boa aparência, destemido e cativante, que aos poucos foi entrando no coração já sofrido e amargurado daquela jovem morena de olhos castanhos, que por vezes dava tons esverdeados, gentil, atenciosa e ágil para atender. Ela, sozinha e um tanto cansada, notou esse rapaz, bonito e cativante, e seis anos mais jovem que ela. Impressionada com a bela aparência desse rapaz, de voz muito bonita, deixou seu coração falar mais alto. Começaram a namorar!!!!
UM PASSO ERRADO
Ele, como um príncipe encantado que vem salvar a jovem donzela dos perigos, tomou conta do coração apaixonado e ela deixou-se cair de amores por esse garboso rapaz, o seu príncipe!
Agora, a vida lhe sorria! Tudo era mais belo! Agora sua solidão evaporou-se, ela não estava mais só..., agora ela tinha um amor para preencher seu coração. Ele dizia ser solteiro, descompromissado e ela, envolvida como estava, deixou-se levar até as últimas conseqüências. Depois de um tempo, descobriu, aterrada, que havia engravidado.
O QUE FAZER?
Ao visitar o médico (dr. Abraão F), creio que ao confirmar a sua gravidez, sabendo de sua situação, o médico deu o conselho mais obvio para situação: abortar. O que ela deveria fazer? Como enfrentar o mundo, os amigos e o pior de tudo, como enfrentar a sua família? Sua situação não condizia com as suas convicções ... então, o que fazer? Solteira, sozinha, e agora grávida ?! Diante de nossas convicções atuais, o que poderíamos aconselhar? Talvez concordássemos com o doutor Abraão – melhor sería fazer aborto! Se ela o fizesse, o estimado leitor não estaría lendo esta história pois eu não tería nascido!
Diante de tal conselho, a mamãe respondeu de imediato, ao seu médico:
Diante de tal conselho, a mamãe respondeu de imediato, ao seu médico:
- Não doutor! Isso não. Pequei uma vez, não irei pecar a segunda vez!
Então resolveu escrever ao meu pai o que estava acontecendo e qual não foi a sua surpresa ao receber a resposta: era da esposa dele ......!!!! Na carta ela contava para a minha mãe que eles já tinham dois filhos – o Luiz e a Romilda. Que decepção ! Mais tarde a decepção continuou, pois o meu próprio pai também a aconselhou fazer o aborto...
FUGINDO DE TODOS
Aí ela percebeu que estava lutando sozinha! Agora sua situação era pior. Resolveu fugir de todos e viajou para o sul, para a cidade de Porto Alegre, a capital gaúcha, e aí buscou abrigo e trabalho no Lar de Meninas de Esteio, o qual era mantido pelo Exército de Salvação, até que eu viesse a nascer. Como ela mesma me dizia:
- Para que tu nascesses em paz.
Lá, ela ficou até que eu nasci, no dia 26 de novembro de 1949, às 11 horas, depois de 2 horas de sofrimento em um parto traumático, com 4 kg e 48 cm de comprimento.
OFERTA A DEUS
Como uma verdadeira Cristã , ela buscou o refúgio em Deus. Ela havia errado, porém cria num Deus de amor, que odeia o pecado mas ama o pecador. Sob a proteção de Deus, também buscando o Seu perdão, ela orava diariamente ofertando a Ele aquele ser que se gerava em suas entranhas. Era seu desejo, igual ao de Ana – mãe do Profeta Samuel (1º Samuel 1), que o seu filho ou sua filha fosse um ou uma servo (a) de Deus e para isso sempre dedicava o seu bebê em formação. Naqueles idos anos, a 1ª metade do século XX, embora já se aproximasse a década de 50, ainda não havia a ultra-sonografia e ninguém poderia saber com antecedência, o sexo do bebê. E a mamãe em todas as suas orações ela dizia para o Senhor: “ Eu não sei Senhor, o que será, se será menino ou menina, mas seja o que for, eu oferto a Ti...” E como prova de sua oferta, ela completava: “Se for menina não cortarei os cabelos enquanto estiver sob minha orientação, depois, Senhor, será a vontade dela....” Mais ou menos nestas palavras era sempre a sua oferta.
DEUS ACEITA
A mamãe assistia a todas as reuniões (cultos) que eram feitos no Lar de Esteio. No final de cada Reunião, é oferecido a oportunidade a todos que quiserem aceitar a Cristo como seu Salvador e Senhor, ou renovar os seus votos de fidelidade e ainda desejar consagrar a sua vida, buscar o socorro Divino, vir até a frente e dobrar seus joelhos no “Banco de Penitentes” também chamado de “Banco das Consagrações”. Aí haverá alguém que irá orara junto com o penitente para ajudá-lo , apoiá-lo ou aconselhar mediante a Palavra de Deus, e interceder por ele ou ela. Este momento é sublime e marca a nossa vida. Quantas lágrimas são derramadas, lágrimas de arrependimento e lágrimas de alegria. Nesse ‘altar’ nossa alma se derrama perante o Senhor. Muitas decisões marcantes são tomadas ali, transformações são verificadas a partir dessa decisão. Alcoólatras e outros com seus viciosa ao ouvir o apelo da Palavra, vêem cambaleando e depositam ali os seus pecados e vários deles quando se levantam para retornar ao seus lugares, já se levantam curados e sóbrios.
Deus é maravilhoso, Aleluia !
Outros deixam no Altar objetos que consideram o motivo para os seus pecados. Eu Já presenciei grandes vitórias.
Eu e o meu pandeiro |
Voltando para a história da minha mãe, para a reunião de Santidade em Esteio, naquele domingo de manhã, talvez outubro ou mesmo novembro de 1949, quase o final de sua gravidez, sentia-se vividamente a presença do Espírito Santo tocando e falando aos corações, o seu desejo era ir também orar, de joelhos lá na frente, mas ela não conseguiria se ajoelhar no ‘banco de penitentes’. Muitas pessoas, emocionadas e tocadas pelo Poder, levantavam e iam se ajoelhar diante do Senhor, ali no ‘altar’. A mamãe por sua vez, também sentindo a presença Divina, desejou se ajoelhar no ‘altar’ então orou ao Senhor mais uma vez. Seu estado não lhe permitia ajoelhar-se, mas orou assim mesmo e mais uma vez ofertou seu bebê ao Senhor e pedindo que Ele aceitasse a sua oferta... nesse momento ela sentiu-se envolvida por um véu que a cobriu completamente e ela soube nesse instante que o Senhor aceitara a sua oferta. Aleluia !!!!
Desse dia em diante a sua vontade não era mais ofertar, mas era agradecer a Deus por ter aceito a sua oferta e pedia saúde e sabedoria para o seu bebê.
No tempo certo, a mamãe foi para o Hospital a fim de se internar na maternidade.
Logo na chegada começou a enfrentar problemas e humilhações.
NA MATERNIDADE
Logo na chegada começou a enfrentar problemas e humilhações.
O recepcionista, na portaria, ao preencher a ficha de internação, quando soube que ela estava sozinha e era solteira começou a lhe dirigir impropérios e a tratar com desdém. Para a mamãe, naquele momento o que mais interessava era que ela iría dar a luz, o seu bebê enfim iría chegar. Ela iría poder segurá-lo em seus braços, ver o seu rosto, e dar-lhe todo o seu amor. E que amor !!!! Era para ter dado a luz dois dias antes , contudo no dia 26 de novembro, às 9 horas da manhã, ela foi levada a sala de partos. Rodeada por médicos, o parto era muito difícil. Foi necessário abrir o colo e fazer várias incisões porque o bebê era muito grande e ela era pequena. No momento que os médicos abriram o colo, a criança chorou ainda no ventre. Os médicos comentaram isso. Depois de 2 horas de sofrimento, de dores alucinantes, e dos médicos suarem muito, nasceu uma menina com mais de 4 Kg e 48 cm. de comprimento, branca como uma folha de papel. Assim nasci eu! Em seguida os médicos me puseram sobre a mamãe e ela me elevou entre as suas mãos e disse:
“Deus te abençoe, minha filha. Deus te abençoe.”.
Antes de sair da sala de parto recebi a pulseirinha de identificação com o número 10, que era o número do leito de minha mãe. Era costume, antigamente deixarem os bebês em jejum por 24 horas após o parto, repousando no berçário, para só depois tomar a primeira mamada. A mamãe, embora cansada por um trabalho de parto tão difícil, não se continha de felicidade e aflição para logo ver a sua amada filha que ela havia protegido em seu ventre durante os 9 meses. Agora invadia o seu coração um sentimento de preocupação e medo que lhe roubassem o seu bebê, ficava indagando pela sua filha as enfermeiras. Quando fui levada para que ela pudesse me alimentar, não me reconheceu porque agora uma cor rosada havia tomado o lugar daquele branco-de-papel que se apresentava na hora do nascimento. Só acreditou o bebê em seus braços era o seu bebê, quando verificou o número da pulseirinha no punho do neném e também observou os traços e reconheceu em mim alguma coisa que lembrava o meu pai como as orelhas um tanto levantadas.
Doze dias mais tarde ela recebeu alta hospitalar e voltou para o Lar de meninas de Esteio, levando-me com muito orgulho, em seus amorosos braços. Ali ela passou todo o período de sua dieta.
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