quinta-feira, 10 de março de 2011

M.Mãe - M.Tes. CAP.VI – O RETORNO - PROVA DIFICIL

VARANDO O PORTÃO

  
Todos os dias, bem cedo, a mamãe saia para trabalhar e a Tia Tereza ficava cuidando de mim. Na casa da vó Francisca havia muitas criações, galinhas, patos, marrecos, cachorros, gatos, pássaros etc ... e para mim que mal sabia andar, era tudo uma festa. Naquela tarde quando entraram na cozinha, uns franguinhos, eu resolvi que deveria tocá-los para fora.  Na porta da cozinha haviam uns três degraus de escada para sair para o quintal. Ali foi posto um portão para proteção. Nesse dia esse portãozinho estava aberto e eu tocando os franguinhos, não parei na porta, caindo pela escada lá fora.  A Vó e a Tia ficaram apavoradas com o meu ‘acidente’, sem saber o que fazer.  A mamãe chegou em seguida e encontrou todos aflitos. Então a tia Tereza, muito nervosa, disse para a mamãe:
- Quase matei a Tide!  Disse isso com aflição e explicou o que havia acontecido.  A mamãe com toda a educação, procurou acalmá-las dizendo:
- Mas se tivesse morrido? O que poderíamos fazer? Isto poderia acontecer até mesmo comigo.  Não se preocupem ....
Dizendo isso foi para o quarto, como era seu costume, levando-me em seus braços.  Quando chegou no quarto então foi aí que ela foi observar o que havia acontecido, o tamanho do ‘galo’ em minha testa. Esta atitude dela tranqüilizou a Tia e a Vó, e fez com que elas a estimassem mais e pudessem cuidar de mim com mais tranqüilidade.  A mamãe era assim, compreensiva, amiga, educada e sabia reconhecer  o que era feito para ela.
  
PROVA DIFICIL
  
Tudo estava bem, mas havia um grande obstáculo a vencer.  O que fazer?  Como contar para os seus pais que tinha uma filha? Família tradicional e não se conhecia nenhum precedente com este.  A mamãe sempre fora muito ativa na Igreja Evangélica, a família toda estava lá na Igreja desde o seu nascimento. 
O meu tataravô, o senhor Francisco Ignácio Borges, foi um dos fundadores da Igreja Presbiteriana Independente de santa Cruz do Rio Pardo.  Logo que ele se converteu, tornou-se um cristão exemplar, e como se dizia na época, um ‘protestante roxo’.  Era difícil para ele freqüentar a Igreja naquela época, porque no vilarejo não havia uma Igreja Evangélica ainda. Então necessitava ir a Botucatu – SP, até que juntamente com outros presbíteros conseguiram trazer a IPI para Santa Cruz.
Creio que com tudo isso em mente, e o dever de ser uma boa cristã, ser um bom exemplo, a mamãe sentia-se envergonhada pela sua situação de mãe solteira. Na metade do século XX isto era algo terrível.  Ela sentia vergonha pelo seu estado civil, porém, nunca tinha vergonha de sua filha amada!!! O sentimento devia se embaralhar em sua mente.  Tinha orgulho de seu bebê, era feliz com ele, porém ainda haveria de enfrentar muita dificuldade e guerrear muito na sua vida.

  
A SOLUÇÃO

Então o que fazer?  Nesta época ela freqüentava a Igreja Presbiteriana do Brasil em Ponta Grossa – PR, situada na Avenida Visconde de Taunay, inicio da Vila Oficinas.  O Pastor local tendo conhecimento de seu dilema resolveu ajudá-la e escreveu para os meus avós, dando ciência  do que estava acontecendo e aproveitando para anunciar à nossa família, a minha existência. Neste tempo eu já estava com de 1 ano de idade.

A VIAGEM

 Chegou o dia da mamãe me apresentar à família.  Primeiro fomos a São Paulo – Capital, para a casa da tia Vasni, irmã de minha mãe.  Durante a viagem eu só queria saber da vó Francisca.  Eu amava-a muito e ela a mim.  A mamãe contava que a cada estação que o trem parava, eu punha a cabeça fora da janela e perguntava para a primeira pessoa que eu visse:
- Cadê vuvó, heim?
E quando estávamos lá,  na casa da minha tia, em São Paulo, a mamãe só bastava começar a contar sobre a vó Francisca, que eu só ao ouvir o nome dela, logo reagia dizendo:
  - a vuvó........a vuvó. 
Então a mamãe começou a evitar de falar o nome da vovó em minha presença, pois eu sentia muita falta dela.

SARAMPO PRÊTO

Quando estávamos em São Paulo, eu comecei a rebentar o sarampo por todo o corpo. As pústulas não se apresentavam em regiões esporádicas e em pequenas manchas no corpo como é o mais comum. Fiquei coberta de sarampo, o tal do ‘sarampo preto’. Durante uma semana inteira foi rebentando.  Quando em algum ponto secava, em seguida voltava a rebentar mais no mesmo lugar.  A mamãe me colocava sentada no pequeno vasinho e ali eu ficava brincando e ‘falando’ sozinha , e para não incomodar o meu tio, ela me deixava na varanda. Com o vento e a garoa fina que caía lá fora deixando o ar humido e frio, a minha saúde piorou, então a mamãe resolveu voltar para Ponta Grossa, comigo.   Como meu estado de saúde piorasse, o sarampo ‘recolheu’ e começou a aparecer tumores, especialmente na minha cabeça, que tomou todo o coro cabeludo.  Com medo de furar os tumores, sem saber qual era a profundidade, ou se era superficial ou se estava sob o couro da cabeça, a mamãe me levou ao Pediatra, no Hospital Infantil Getulio Vargas, conhecido como ‘Hospitalzinho’ e eu fiquei inrternada.  Nesse tempo eu completei meus dois anos de vida, no Hospital.

COM MEDO

Quando a mamãe foi comigo para São Paulo, eu ainda não havia sido registrada.  Meu pai queria fazê-lo, mas não sei por que não o fez.  Com a minha enfermidade se agravando, a mamãe achou que eu poderia morrer.  Sendo assim ela resolveu me registrar, porém,  e o meu pai?  O tio Oliveiros, marido da tia Vasni, se ofereceu para se fazer passar por meu pai mas isto não era certo.  Também, com medo que o meu tio me registrasse como filha dele, e pela ilegalidade que sería se fazer passar por outra pessoa, a mamãe não aceitou.  Um dia foi sozinha para o cartório da Penha, em São Paulo, para me registrar.  Seu desejo era que o meu nome fosse composto com o nome do meu pai e da mãe dela: Ilaíde Eliza.  Porém no cartório não aceitaram, sendo que ela estava só.  Tería que optar por deixar o ‘Eliza’ e tirar o nome do meu pai ou vice-versa.  Ela optou pelo nome do meu pai.

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