sábado, 28 de janeiro de 2012

CAPITULO XIV LUTANDO PELA VIDA

CAPITULO XIV
LUTANDO PELA VIDA


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        INFELIZ ACERTO

O lugar que eu sabia que poderíamos nos hospedar era na casa da irmã mais nova da mamãe, a tia Ondina. O meu primo, filho adotivo e único da ti, era paraplégico desde os 17 anos de idade por causa de um acidente que sofreu ao nadar no Rio Pardo. Ele era um tanto implicante e isto poderia vir a ser um problema. A tia Ondina também, muito explosiva, não demorava a “estourar”, pois para ela, a minha mãe era “uma tonta”. Pensando em tudo isso busquei logo por uma casa para alugar, que estivesse dentro do que nós poderíamos pagar. Antes, porém veio o que eu temia... Um novo AVC. Eram por volta das 5 horas 30 minutos do dia 11 de dezembro- apenas 4 dias depois de nossa chegada- mamãe começou a falar desordenadamente, o que me fez acordar, e já buscar socorro... Não conseguia medir sua pressão, pois estava muito agitada. Logo veio a tia Ondina ver o que havia e disse:
─ ô Ilaíde, faça a Elza ficar quieta que isso é fingimento...
─Não tia ela esta sofrendo novo derrame...
Respondi já procurando como poderia levá-la ao PS. Eles tinham em sua garagem, uma Variant-branca ano 1970, e sabia que eu poderia dirigi-la, porem não me ofereceram as chaves para que eu pudesse socorrer a mamãe. Assim eu tentava em vão encontrar uma condução para nos levar ao hospital, até que por fim conseguimos um táxi. Chegando lá, a mamãe foi medicada e internada.

   “NÃO POSSO FAZER NADA”

No horário de visita voltei ao hospital para ver a mamãe e a encontrei ainda como eu havia deixado, apenas que estava no seu braço conectado um frasco de soro e eu observei que o mesmo não descia. Então falei com a enfermeira ao que ela me respondeu que não havia conseguido “pegar” a veia e esqueceu-se de tirar a agulha do braço da paciente. E, dizendo isso retirou a agulha, levando embora o soro sem tentar pulsionar nova veia para que se pudesse ministrar o medicamento prescrito. Já eram 13 horas e a mamãe permanecia sem medicação e sem alimentação e amarrada na cama. Quando foi por volta das 16 horas recebemos em casa, um chamado do hospital. Corri para ver o que era. O médico dera alta- hospitalar porque a paciente estava muito agitada e ele não podia fazer nada...! Então eu falei:
─ Doutor, deixe-me ficar ao lado dela. Ela vai se acalmar...
─Não, não pode. Se a senhora quiser tem que pagar quarto particular.
─ Mas doutor, eu não vou atrapalhar. Ela precisa do tratamento. Só quero ajudar... Ela precisa de ajuda e eu não posso pagar... Insisti:
─ Não, só pagando... Se não, não posso fazer nada.
 Então diante das palavras impiedosas do doutor, arrumei a mamãe e voltamos para casa.


A VIDA QUE FUGIA


Tudo ficou mais difícil. A mamãe agora estava completamente confusa. Gritava por socorro e lá vinha a tia Ondina exigir que eu fizesse ela se calar; na hora de ministrar os remédios e de dar comida, ela cerrava os dentes e não abria a boca , por nada. Assim ela foi se enfraquecendo e sentíamos que a vida dela estava fugindo aos poucos. Mais uma vez era hora de confiar só em Deus.
Como fazer para que pudesse alimentá-la? O meu tio Ittai, irmão dela, mais uma vez me ajudou, lembrando que se eu usasse uma seringa seria mais fácil e não iria ferir seu rosto, pois não precisava força-lá abrir a boca.
Uma semana passou e nós sentíamos que ela ia perdendo as forças e a vida... Novamente o tio Ittai me estendeu a sua mão e juntamente com o meu primo Valter, a levamos para Santa casa de Ourinhos.
 

GREVE NA SANTA CASA


Desta vez a tia Ondina me emprestou o carro para que pudéssemos levar a mamãe para a Santa Casa de Ourinhos não víamos outra saída. Também estava agendada uma consulta com o neurologista da Unicamp, em Campinas e como poderíamos levá-la naquele estado? Ela poderia não agüentar a viagem. Então precisávamos resolver a situação e principalmente a saúde da mamãe era muito preciosa e precisava de socorro urgente.
Quando chegamos lá, para nossa surpresa e ansiedade, encontramos a Santa Casa em greve. Porém não podíamos retornar com a mamãe como estava. Ela já não reagia, estava entrando numa faze de torpor, sem conseguir receber os remédios necessários e nem alimentação. Havia outro problema e barreira a vencer. Eles não atendiam se fosse de outra cidade. O que fazer? O tio Ittai foi lá conversar com a jovem que atendia no balcão. A mamãe, então, foi levada para dentro e ficou aguardando atendimento no corredor; sobre a estreita maca. Em minha aflição eu não suportei esperar muito e resolvi falar com a jovem que atendeu ao tio Ittai. Quando falei que éramos de Santa Cruz e o que havia acontecido, de imediato veio a negação. Não podíamos ser atendidos naquele hospital...! Para trás com a minha querida mãezinha naquele estado, eu não iria voltar, diante de minha insistência ela resolveu falar com o médico de plantão. Eu fui atrás, quando ela começou falar que não éramos de Ourinhos, eu interrompi e implorei ao médico o seu socorro. Expliquei o porquê de estarmos ali e falei:
─ Por favor, doutor; Salve o meu tesouro! Ela é tudo que eu tenho na vida.
Ele prontamente atendeu e socorreu. Após ser fortalecida com 2 litros de soro e outros medicamentos, voltamos para Santa Cruz na esperança de uma melhora.


NOVO DIAGNÓSTICO ESTARRECEDOR


Poucos dias depois, fomos a Unicamp e foi diagnosticado Demência por Enfartos Cerebrais múltiplos.
Levei comigo o exame de tomografia Computadorizada que havíamos feito no ano de 1991 em Taubaté-SP. Diante de tal exame o médico e sua equipe descobriram que o derrame que tínhamos conhecimento não havia sido o primeiro. Antes dele houvera outro e nós não sabíamos, seria aquele mal estar que descrevi que aconteceu em São Vicente, quase vésperas de eu ir para Portugal em 1987? Eu penso que sim.  

CARETAS PERDIDAS

Praticamente uma semana depois de tudo isso, a mamãe novamente precisou de socorro médico. Mais uma vez o nosso vizinho auxiliar-de-enfermagem tentou nos ajudar nos acompanhando até o pronto socorro. O médico de plantão mal se levantou da cadeira, contudo resolveu internar a mamãe para tratamento. A enfermeira de plantão estava fazendo um tremendo esforço para que ele não deixasse a mamãe internada e olhava para mim com expressão rude que dava a entender caretas. A razão que era a mesma jovem que atendeu quando fomos a primeira vez, a qual me referi em sub - tema “ Não posso fazer nada”. Ela se lembrou como a mamãe estava agitada na ocasião, por isso estava muito contrariada com o médico que resolveu internar a mamãe. Antes, contudo ele achava que eu podia cuidar dela em casa com ministração de soro endovenoso e demais medicações, mas como eu poderia fazer isso? Eu não sabia como pulsionar uma veia, como poderia cuidar de um soro endovenoso? O nosso vizinho achava que seria possível, pois ele acreditava poder ajudar, contudo, eu não me fiei em tal promessa e digo que não me enganei. Havia aqui ainda o problema financeiro, eu não tinha condições de pagar ao hospital, novamente veio o alerta: você pode pagar? Assim mesmo ela ficou internada, procurei saber quem seria o médico que cuidaria do meu tesourinho no hospital. Não era costume e creio que nem era permitido, dar o nome do clinico que estaria responsável pelo tratamento de minha mãe, naqueles dias, contudo foi-me dito ser o Doutor Zacura. A tia Ondina ficou animada ao saber qual seria o médico que estaria tratando a mamãe, pois que sua mãe fora vizinha de meus avos e isto me animou a telefonar para ele. Procurei na lista telefônica e com toda coragem telefonei. Expliquei-lhe o que estava acontecendo e embora não o conhecesse, fui muito bem tratada por ele. Quando a mamãe recebeu alta hospitalar, voltou bem melhor; mais calma aceitando a alimentação e os remédios que lhe dávamos.
A enfermeira que fizera as suas caretas, pensava que nos assustava, porém foram inválidas porque nos estávamos nas mãos do Senhor Jesus. Quem cuidava de nós, era o Senhor. Aqueles dias, no inicio de nossa volta a Santa Cruz foram bastante difíceis, mas o Senhor pelejou por nós. “Pelejaram contra ti, mas não prevalecerão, pois eu sou contigo diz o Senhor, para te livrar.” (Jeremias 1:19).” Pois a peleja não é vossa, mas de Deus.”(2 Crônicas 20:15b)
Que Deus maravilhoso que nós temos!
A Ele seja dada toda honra, toda glória e todo louvor para todo sempre!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

TENTATIVA FRUSTRADA         


Os meses passaram e estivemos tentando novos rumos em nossa vida. Tentamos deixar a mamãe do Lar de Outono em Campos do Jordão para ver se ela acostumava. Ela estava concordando com tudo, porém em poucos dias ela precisou ser hospitalizada e a sua saúde e recuperação volta para mais ou menos dois anos. Sua saúde corria perigo, e o médico então deu um atestado que ela não poderia ficar longe da filha.

  LOUCA?

Nesse tempo, também ela começou a chamar por mim durante a noite, não deixava ninguém dormir, pois chamava-me a noite toda. As suas companheiras de quarto não entendendo a causa, disseram que ela estava fora de si.  
Por aqueles dias teríamos um acampamento Feminino em Suzano-SP, no “Vale de Bênçãos”. Combinamos, e a diretora daquele Lar, trouxe a mamãe ao meu encontro.
Na primeira noite, quase não conseguimos dormir, a mamãe e eu. Logo que o sono começava a chegar repentinamente a mamãe começou a falar.
─ Meu Deus, ai meu Deus; Tide, Tide me ajude,...
Quando olhei ela estava demonstrando muito dor no joelho direito. Era só começar a dormir, seu joelho dava ferroadas que fazia ela quase chorar de dor e por isso que me chamava a noite toda. Tentei ajudá-la fazendo massagem e orando pois eu não tinha nem uma pomada, eu garrafa com álcool para massagear sua perna e joelho. No dia seguinte consegui a pomada, necessária e então, com a ajuda de Deus, ela sentiu-se melhor. Quando retornamos a Atibaia, levei-a para fazer exames e foi diagnosticada “bursite” (infecção na junta) no joelho o que só seria possível tratar com infiltrações. (infecções no joelho). Só assim ela pôde se livrar da dor que a maltratava.


     “QUEM TE VIU QUEM TE VÊ”

Fiquei tão triste ao ver o estado que ela ficou, por causa de sua saúde: Arcada para frente, sem equilíbrio ou precisando andar em cadeira-de-rodas. Eu nunca me conformava ou aceitava que o meu tesouro se entregasse para doença. Observando isto eu falei:
─ Mamãe, o que é isso?! Vamos, vamos; levante o corpo! Reage mãezinha. Vamos...
Então ela endireitou e começou a sua nova recuperação. Em uns dois dias já voltou a andar sobre o seu bordão. Quando entramos no salão, ao encontro com as demais acompanhantes, a Diretora do Lar a viu entrar andando e tentando brincar com a sua bengala, exclamou:
─ Eh! Dona Elza “Quem te viu e quem te vê”...
Só vendo pra crer!!!
Graças a Deus que Ele nos socorreu e ajudou nesta grande melhora.

NOVOS RUMOS

No mês de julho-1993, fui trabalhar em Campinas como auxiliar e responsável pela creche no Jardim Campineiro. Morando no mesmo local, a mamãe começou a ter espasmos como pequenas convulsões quase que diariamente. Para mim, poder conciliar os dois ali  não foi fácil e também enfrentamos diversas dificuldades. No final do ano eu me sentia quebrada e triste por ver que a mamãe piorava de saúde e eu nada podia fazer. O local em que morávamos, não ficava perto de nenhum socorro. Eu estava sentindo que ela caminhava para um novo derrame e o que eu iria poder fazer? O medo de que ela viesse a perecer sem que eu conseguisse buscar socorro começou a invadir minha alma. Aflição, tristeza, porém eu sabia que Deus  não havia nos abandonado e Nele eu depositei mais uma vez a minha confiança e esperança. Solicitei ao meu chefe licença por tempo indeterminado e fomos para Santa Cruz do Rio Pardo-SP. Chegamos lá na manhã do dia 7 de dezembro.


    A PROVIDÊNCIA DIVINA

Eu sentia preocupação sobre como iríamos chegar em casa, levando bagagem e carregando a mamãe...contudo o Senhor já Havia providenciado a condução. Quando olhei ao lado da plataforma, havia uma camionete vermelha estacionada e então me ocorreu à idéia de pedir a ajuda ao proprietário, o que prontamente me ajudou, e me falou:
─ Hoje, já é o terceiro dia que eu venho aqui para buscar uma peça para o meu carro e só hoje ele chegou.
Pensei comigo: “Obrigada meu Senhor, porque o Senhor providenciou este carro que veio nos esperar...” aí eu senti mais uma vez que Deus estava comigo naquela decisão.


VERDADE QUE DOEU

Em conseqüência dessa convulsão intensificamos os exames e o tratamento, então o medico que tratava dela solicitou um novo exame: Tomografia computadorizada. Conseguimos fazê-la em Taubaté-SP. A minha esperança era que ela se recuperasse totalmente e pudéssemos voltar a nossa vida normal. Até então, eu não havia compreendido a extensão do mal que havia acometido a minha mãe. Também sabia, que para o Senhor não haveria impossíveis, bastava Ele querer e tudo seria feito. Nossa vida estava em Suas mãos. A mamãe e eu éramos Suas servas e Ele sabia o que fazer. Só precisávamos confiar. Contudo é bom lembrar que os desígnios de Deus, não são os nossos, os pensamentos de Deus não são os nossos: “Pois os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor.”(Isaías 55:8) “Muitos são os planos no coração do homem, mas o que prevalece é o propósito do SENHOR.” (Provérbios 19:21) . E sabemos que o Senhor não nos abandona, em todos os momentos Ele está conosco, a altura de nossa mão e mais ainda a altura de nosso coração, pronto a nos ouvir.
Alguns dias depois, conforme a data fixada para ir buscar o resultado, fui até aquela cidade. Minha esperança era que o médico me dissesse a noticia que em breve o meu tesourinho sararia completamente e iria poder voltar a vida normal que sempre tivera antes. Minha esperança ficou naquele consultório médico... eu não teria mais aquela alegria... meu Deus, meu Deus...
─ Doutor, mas não há esperança? Não há retorno?
─ Não, não há. Veja aqui...
Nisto ele me mostrou todas as áreas afetadas pelo AVC e estava tudo negro, sem vida, enquanto que as outras áreas estavam claras e bem definidas e continuou:
─ Estás vendo? Toda essa área foi afetada e o cérebro não se reconstitui. Ela não voltará mais.
Ao escrever este diagnóstico dito pelo médico, as lágrimas ainda afloram em meus olhos depois de tanto tempo. Eu precisava me conformar e acostumar a esta triste realidade. ─ Acidente Fascular Cerebral Isquêmico! Saí daquele consultório com a alma aos prantos e as lagrimas a correr pelo rosto... meu tesouro não seria mais a mesma porém o meu Senhor era o mesmo.”ontem, hoje e para sempre”. Conforme o diagnóstico médico, ela teria perdido uma área correspondente mais ou menos 20% do seu cérebro e isto afetara muitas funções. Agora, mais do que nunca, eu deveria confiar nos cuidados do Senhor e Ele jamais nos deixou sozinhas em momento algum.
Hoje em dia referem-se a cura de câncer, controle da AIDS, cura da Hanseníase, o homem já foi a lua e continua buscando novas aventuras no espaço... já estão brincando de Deus querendo fazer seres viventes chamados de “clone” e tantas outras descobertas tão importantes na criação e com tudo ainda não encontraram a cura para um simples AVC! É bom notar que há medicamentos que ajudam na circulação, porém, os melhores não estão ao alcance do pobre, ou dos menos favorecidos, então ainda temos que viver tão triste realidade.

     NOVOS ARES

Algum tempo depois eu tive nova nomeação e fui transferida para trabalhar no “Lar Recanto da Serenidade” na cidade de Atibaia-SP. Também um “Lar” para pessoas idosas.
Atibaia é uma cidade turística, com um clima privilegiado sendo considerado segundo melhor clima. .Há muito verde, pássaros de diversas qualidades, muito água potável, enfim, só visitando para saber. Muitas pessoas buscam morar em Atibaia quando recebem a sua aposentadoria.
Aqui, Deus mais uma vez, derramou sobre nós as Suas tão preciosas bênçãos. Eu vim trabalhar com um casal, cuja senhora eu tinha conhecido e nos tornamos amigas quando eu era seminarista e faziam uns 15 a 16 anos que não nos víamos. Agora casada, com 3 filhas lindas, juntamente com seu esposo eram os Administradores deste “Lar”.


     DIRIGINDO PARA MELHORAR
  
Não demorou muito para que o Capitão Peter Lewis me auxiliasse a pagar prática no volante. Assim eu dirigia a variante vermelha do Lar por toda parte de Atibaia, sempre contando com uma companhia que, abaixo do meu mestre e Senhor Jesus, inspirava-me para melhor trabalhar e sentia-se muito feliz por estar comigo: a mamãe. Toda parte que eu ia sempre a levava ao meu lado. Quero frisar aqui que outras idosas que quisessem nos acompanhar era permitido, então não raras as vezes que eu tinha em minha companhia duas ou três idosas. Consegui na época que muitas doações chegassem ao Lar e Deus nos ajudou muito.


     PRONTA PARA ENTRAR NA UTI


                   Certo dia a mamãe começou a falar meio devagar demais, e com muita dificuldade, já fiquei em alerta. Tomei o seu pulso e assustada constatei que estava com 44 b/m, não demorou para que chegasse a 40 b/m. “ O que será que esta acontecendo, Senhor?” perguntava para Deus. Corremos com ela para o Pronto Socorro da Santa Casa local e lá, o médico de plantão, após constatar a gravidade do estado de saúde e após ter realizado um ECG (Eletrocardiograma), nos orientou que a levássemos o mais depressa possível para um  hospital em que houvesse UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), pois ela precisava ser internada nessa unidade ainda aquela noite. Como não houvesse UTI para quem não tinha condições financeiras, em Atibaia, deveríamos então levá-la, bem depressa para Bragança Paulista- SP cidade próxima (18 km), onde havia faculdade de medicina e a mamãe então receberia, sem problemas, o tratamento que necessitava.

SOCORRO PRESENTE

Antes de pegarmos a estrada, voltamos ao Lar para pegar alguns agasalhos e antes de sair, oramos ao nosso Deus. A mamãe sempre usufruiu de todas as viagens que fazíamos, mantendo-se atenta para tudo que passava. Gostava de ler as placas da beira da estrada e com isto ela se distraia e sabia sempre onde estava. Desta vez não foi diferente.
Sentava ao lado do Capitão, na frente, ela ia lendo as placas de sinalização pela estrada e de vez em quando fazia pequenos comentários e eu pude notar que a medida que corríamos em direção a Bragança, ela melhorava; sua voz já não estava mais tão pesada e presa e estava mais animada.
Chegando lá, após exames e novo ECG, constatou que ela havia melhorado e sua pulsação estava agora com 72 b/m. segundo as orientações do médico voltamos felizes para casa, para o Lar em Atibaia, trazendo conosco minha querida mãezinha, já bem melhor mesmo sem tomar alguma medicação nos hospitais em que foi atendida naquele dia. Louvado seja o nosso Senhor Jesus que sempre nos ouve e o nosso socorro bem presente na angústia “O nosso socorro está no nome do Senhor, criador dos céus e da terra.” (salmo 124:8) “Deus é nosso refugio e fortaleza socorro bem presente na angústia.” (Salmo 46:1). Aqui vale a pena dizer que muitas pessoas buscam refugio em coisas falsas, como crer que uma ferradura atrás de uma porte irá lhe trazer boa sorte ou espantar o mal que poderá rondar, ou que uma figa no pescoço vai lhe trazer defesa de maus olhados, ou que um pé- de – coelho poderá lhe trazer sorte; crêem que duendes vão lhe abençoar, os tais patuás com orações tolas dependurados com uns nojentos cordões no pescoço irá lhes trazer bênçãos e proteção, e assim por diante.
Amigos parem um pouco e pensem só por uns minutinhos: que poder tem tais coisas? Quem os fez? Quem inventou isso tudo? Ou será que não foram inventados... alguém desceu do céu e entregou-os para você... Ainda assim, que poder espiritual tem eles? Eu não quero para mim tal proteção tão falha. Se você por no fogo, todos se consomem, o fogo os destrói, então que poder teem todos eles? Eu quero para mim, para meu socorro e proteção, o Senhor que criou os céus, a terra e tudo que nela há. Ele sim é a verdadeira proteção e socorro, Ele é o Senhor Onipotente, Onisciente, Onipresente. Ele é Deus! “ cuidai para que o vosso coração não se engane e, desviando –vos, sirvais a outros deuses e vos prostreis diante deles.”( deuteronômio 11:16).
Essas crendices não vêm de Deus e é abominação ao Senhor que O faz entristecer. Sabe por quê? Porque Deus te ama! “não haja no meio de ti quem faça passar pelo fogo o filho ou a filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador, nem necromante, nem mágico, nem quem consulte os mortos.O Senhor abomina todo aquele que faz estas coisas. Serás perfeito diante do Senhor teu Deus.”(Deuteronômio 18:10-13).
Bom, se alguém deseja continuar crendo em objetos mortos, sem valor, então o Senhor não irá impedir só que na hora da provação não estranhe se não obtiver a resposta de Deus...

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

CAPÍTULO XIII SEGUINDO AS FILEIRAS

CAPÍTULO  XIII  
SEGUINDO AS FILEIRAS

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EM CAMPOS DO JORDÂO

Em fevereiro de 1990 seguimos para o “Lar do Outono” na cidade de Campos do Jordão. O Exercito de Salvação mantem um lar para idosos naquela linda cidade. Gostaria de lembrar ao estimado leitor que não usamos a denominação “asilo”, mas chamamos de “lar” porque estendemos aos idosos, sob os nossos cuidados, que se sintam como se estivessem vivendo num lar e aonde eles são muito preciosos.
Fomos bem recebidas no “Lar do outono” e tudo que eu podia, fazia para ajudar e cuidava da mamãe. As dificuldades eram grandes para poder conciliar os dois, com tudo eu estava feliz por poder ter a mamãe comigo, e poder cuidar dela.
Em Campos do Jordão – SP  1991
 
Diante dos fatos e dificuldades muitas pessoas amigas não conseguiam entender porque eu não deixava a mamãe em um “asilo” e assim eu poderia seguir sem maiores dificuldades o meu ministério. Eu havia prometido para ela que eu não faria isso, que nunca havia de deixá-la num asilo e ela sabia que a minha palavra que eu havia empenhado, eu havia de cumprir.


DE PONTA CABEÇA

Como havia dito acima, eu procurava conciliar os dois trabalhos, apesar  que para mim não era trabalho cuidar da minha mãe, era além de um dever cristão e de filha, era prezeiroso poder cuidar do meu tesouro, porem muitas coisas aconteciam apesar de todo cuidado.
Certo dia eu sai para fazer algum trabalho fora do Lar e deixei a mamãe em nosso quarto, deitada. Quando retornei encontrei a diretora colocando gelo na testa da mamãe e muito preocupada. Ao indagar o que havia acontecido, ela me disse:
─ A sua mãe caiu de ponta cabeça, batendo a testa no chão...
Como isso aconteceu? Bem todas as idosas gostavam muito dela e vinham cumprimenta – lá ou conversar com ela quando eu a deixava no quarto em vez de levá-la para sala. Naquele dia quando eu saí, a Carolina, uma das senhoras idosas veio trocar umas palavrinhas com a mamãe. Eu havia trazido um gato muito bonito de Portugal, o qual era estimado por ela, e ele subiu na cama dela, não sei se ela quis pegá-lo ou se desejava tirá-lo da cama, aí perdeu o equilíbrio e foi ao chão batendo o lado direito da testa no chão que era de cerâmica vermelha. Levantou um enorme calombo, o famoso “galo”. Fizemos exames e radiografias e com a graça de Deus, nada, além disso, aconteceu. Só tivemos que conviver por uns tempos com o seu olho e testa roxos, mas graças a Deus que a protegeu.

“MAMÃE, NÃO MORRA”!

 Campos do Jordão- SP é uma cidade muito gostosa de se viver. O clima é delicioso, é frio bastante, porém é muito sadio. Nós gostávamos muito de lá e a saúde da mamãe estava sempre bem, ela se adaptou muito com o clima. Porém o derrame é algo muito triste e como um inimigo invisível, ele vai minando, a saúde física e mental de suas vítimas. As áreas atingidas do cérebro morrem e trazem consigo conseqüências aterradoras. A mamãe sempre foi tudo para mim. Ela foi meu pai, minha mãe, ela foi meu atalaia espiritual, foi através de seus ensinamentos que eu conheci a Jesus como meu Salvador e Senhor. Parecia-me impossível viver sem tê-la ao meu lado, sem poder ouvir os seus conselhos, as suas orientações, ela era o meu esteio de vida, o centro da minha vida, só estava abaixo do Senhor Deus que é o supremo em todo o meu viver. “Se não fosse o Senhor que esteve ao nosso lado, ora diga Israel, se não fora o Senhor, que estava ao nosso lado..., as águas teriam transbordado sobre nós e a corrente teria passado sobre a nossa alma; águas impetuosas teriam passado sobre a nossa alma.” O nosso socorro esta no nome do Senhor, criador do céu e da terra.” (Salmo 124: 1,2ª,4,5,8)
 A mamãe mesmo doente era bastante alegre, e sempre nós conversávamos, trocávamos idéias, e eu ouvia os seus preciosos conselhos. Certa noite, estávamos conversando, quando repentinamente ela começou a tremer, e me falou:
─ Filha, veja que coisa esquisita... Minha mão esta tremendo...
Logo este tremor passou para os seus pés, e já para o rosto e a se contorcer. Era uma violenta convulsão... Eu nunca havia presenciado tal situação, parecia-me que ela estava morrendo. Então implorei, tentando ajuda-la como podia; e em lágrimas e aflição:
─Não morra mamãe; por favor, não morra...
Meu Deus! Eu estaria perdendo o meu tesouro? Pedi ajuda das senhoras internas que de imediato me socorreram. Enquanto elas ficaram ao lado dela corri para Santa Casa que ficava ao lado do Lar, e dois enfermeiros vieram buscá–la com a maca. Sua PA estava muito alta (24x14), mas graças a Deus que foi salva a tempo e não se concretizou um novo AVC.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

UM TRIBUTO DE GRATIDÃO


Vou fazer uma pequena pausa para contar a razão de tanta alegria ao ver estes dois oficiais.
O major Hofer fôra nosso Pastor em Ponta Grossa quando eu era pré-adolescente e a mamãe quando era oficial teve o privilégio de trabalhar com os pais do major que também eram oficiais e em um dia em visita a nossa Igreja em Ponta Grossa. PR o Brigadeiro Hofer (o pai) muito feliz de encontrar a minha mãe disse-me:
─ Você deve escrever um livro sobre a história de sua mãe. Não esqueça, faça isso, ela merece!
Verdade, ela merecia, minha querida mãezinha merecia sempre ser lembrada e sua vida foi um exemplo. Também o major Hofer foi o chefe do comando que me chamou para Portugal. Agora ele estava trabalhando nova mente, no Brasil.
A Tenente Coronel Wakai - eu a conhecia quando eu estava com 15 anos por ocasião de um congresso de jovens que estudam a Bíblia, chamados do Exercito de Salvação de cadetes locais. Ela era auxiliar do seminário, do Exercito de Salvação em São Paulo, nessa época.
Alguns anos mais tarde quando eu já era oficial, fui trabalhar com ela, a então capitã Wakai e eu a tenente Fleury.
Nessa época, a mamãe precisava de novo par de óculos, pois já não enxergava mais nada com os seus. O oftalmologista que ela consultou deu-lhe uma notícia um tanto preocupante. Precisava ser operada por causa da catarata que já havia tomado conta de seus olhos. Aqueles lindos olhos castanhos claros e que às vezes tornavam-se esverdeados, precisavam de um cuidado especial. Como realizar tal cirurgia?
Então descobri que em Niterói – RJ, local em que eu estava trabalhando, havia uma excelente clínica especializada, a Clínica Santa Beatriz. A mamãe, contudo, precisava de um tratamento de saúde, seu coração necessitava de cuidados.
Bem próximo a nossa casa havia um posto de saúde, o que poderia facilitar o tratamento para a mamãe. Com a permissão da minha oficial dirigente a Capitã Wakai, trouxe a mamãe para ficar conosco enquanto se tratava.
Logo no inicio, eu recebi nova nomeação. Deveria me transferir para o seminário do Exército de Salvação em São Paulo.

 DEUS ESCUTA


E agora, que fazer? A mamãe precisava do tratamento e estava apenas no inicio... Deveria interromper tudo? Naquela noite na minha oração falei com o Senhor:
─ Senhor, e agora o que vou fazer?
No dia seguinte, logo cedo fui surpreendida pele capitã, quando ela me disse:
─ Tenente, você não precisa pensar o que vai fazer agora; pode ir tranqüila, que eu cuido da sua mãe.
Deus me respondeu fazendo com que a Capitã Wakai me dissesse as mesmas palavras que orei sussurrando em meu quarto a sós com Deus. “Os justos clamam, e o Senhor os ouve; livra-os de todas as suas angústias” (Salmo 34:17). “certamente a mão do Senhor não esta encolhida, para que nos possa salvar, nem surdo o Seu ouvido para que não possa ouvir”. (Isaias 59:1).
Eu pergunto para você amigo, você crê que Deus te pode ouvir? “Aquele que fez o ouvido não ouvirá? E o que formou o olho, não verá?” (Salmo 94:9). Mas você sabia que há empecilhos para que Deus não escute? Veja o que diz Jó. “ certo é que Deus não houve a gritos vazios nem atenta para eles o Todo Poderoso”. (Jó 35:13).” Mas as vossas iniqüidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós para que não vos ouça” (Isaias 59:2). Observe amigo que o pecado fará com que Deus não responda a nossa oração. Então é o momento  de observar e fazer uma auto- análise, auto- crítica e vencer o pecado que esta fazendo a barreira entre você e Deus.
Diz o compositor sacro:

                      “Deixa a luz do céu entrar
                        Deixa o Sol em ti nascer
                        Abre o coração e deixa Cristo entrar
                        E o Sol em ti nascer.”
           Autora: Ada Blenrhon                 Tradutor: Antonio Querino Lomba


        TRATAMENTO CUIDADOSO

Assim, sendo, eu me mudei para São Paulo e a Capitã Wakai cumpriu o que me prometeu. A mamãe fez o tratamento do seu coração, fez a cirurgia de um olho e depois de uns dois meses fez a segunda cirurgia, digo, a cirurgia do outro olho, levando mais ou menos uns seis meses em que ficou na casa da Capitã e ela cuidou do meu tesouro com muito carinho e desvê-lo. Havia uma ordem do médico para que a cirurgia tivesse sucesso: A paciente não podia fazer movimentos com a cabeça por um determinado tempo. Hoje em dia sabemos que tais cirurgias são muito simples e seguras, não resolvem, mas o risco de vida para o paciente  e nem há necessidade de internação, são feitas a lazer em poucos minutos, porém no ano de 1978, havia a necessidade de anestesia e repouso absoluto.
A mamãe me contava que a Capitã alem de fazer tudo por ela a tratava com carinho, não permitindo que ela fizesse qualquer coisa que fosse em casa, e ainda permitia que a sua nova auxiliar , a Tenente Ester dos Santos a acompanhasse ao médico quando precisava retornar.
Fiquei muito grata a Deus por tudo que a minha querida Capitã Wakai fizera para minha mãe. Ela cuidou tão bem que a mamãe voltou a enxergar e a cirurgia foi um sucesso. Hoje em dia, a Tenente Coronel Ruth Wakai, esta aposentada  e rogo a Deus pela sua vida e saúde.
Ate o fim de seus dias todos o médicos oftalmológicos que a examinavam, admiravam-se da perfeição da cirurgia que fizera.

FORÇA DE VONTADE


Em casa, eu carregava a mamãe para o quarto a noite, e pela manhã levava-a para a sala e a deitava no sofá, também a colocava numa cadeira, porém amarrada com um lençol para que não caísse.  Quando íamos ao Hospital para fazer a fisioterapia, ainda tinha que amarrá-la, segurando fortemente o lençol no banco traseiro, para que ela não caísse e viesse a se ferir durante o trajeto de casa ao Hospital.
Não demorou muito para que ela reclamasse dessa situação. Naquela manhã, ao amarrá-la na cadeira, ela disse:
─ Não me amarre, filha.  Por favor... não me amarre...
─ Mamãe, eu preciso fazer isso para que a senhora não venha a cair.  Respondi.
─ Eu não vou cair.  Disse ela.
─ Ah! Mamãe...eu tenho medo que a senhora caia.
─ Eu não vou cair, filha.  Não me amarre... Respondeu com segurança.
─ Então, mamãe, vamos fazer uma coisa. Não irei amarrá-la.  Porém se a senhora cair, terei de amarrá-la de novo. Combinado?  Propuz.
Ela concordou e então fiz o que prometi e ela não caiu ! Logo depois o tio Julinho, veio buscar-nos para levar ao hospital, a fim de fazer a fisioterapia. Levei a mamãe até o carro, a coloquei sentada no banco da frente ao lado do Tio Julio, e fui sentar atrás como eu fazia sempre. Coloquei as mãos sobre o ombro dela para ajudá-la a se equilibrar mas não amarrei. O tio Julio estranhou e logo perguntou preocupado e desconfiado, se eu não ia amarrá-la.  Logo depois ele pode testificar a grande vitória de minha mãe, o resultado de sua grande força de vontade que estava a demonstrar.


APRENDENDO A CONTAR


A mamãe perdeu os movimentos do lado esquerdo e sua mão parecia que iria ficar enrolada.   Isto não!!! Eu não aceitei e propuz no meu coração que ela haveria de readquirir os movimentos da mão esquerda.  Lembrava-me de casos do passado que eu via as pessoas com as mãos enroladas e doentes, e eu não aceitava isso.  Mas o que eu deveria fazer então?  Mais uma vez o meu Senhor e Mestre me ajudou e orientou.  E coloquei em pratica o que pensei.  Tomei em minhas mãos a sua mãozinha doente,levantei o seu dedo indicador, com certa dificuldade pois parecia travado e disse:
─ Veja mamãe, ‘UM’...está vendo querida? Olha: ‘UM’... Agora faça para mim: ‘UM’!
Levou um pouco de tempo e necessitei fazer todo o processo de novo. Insisti, mostrando a ela o seu dedo indicador levantado e ela com grande dificuldade conseguiu levantar o seu dedo e mostrar  ‘UM’.
No dia seguinte levantei disposta a fazê-la levantar dois dedos fazendo o ‘DOIS’, assim  pensando, primeiramente constatei que ela lembrava-se como fazia o ‘UM’ e então lhe disse:
Mãezinha, agora vamos fazer o ‘DOIS’. Veja querida,’DOIS’, veja querida ‘DOIS’, falei levantando os dois dedos (indicador e pai-de-todos) de sua mão esquerda.  E tentei fazer com que ela notasse e memorizasse:
─ Viu mamãe? Olha ‘DOIS’,... ‘DOIS’ ...agora querida faça para mim: ‘DOIS’...
Agora era mais difícil, mas ela estava se esforçando, e como se esforçava...!!! Quando de repente ela soltou todos os dedos, como se estivessem escapando de uma prisão, abrindo completamente a sua mão esquerda. 
Que alegria! Que vitória!
Louvado seja Deus!

NOITE E DIA SEM PARAR


Por algum tempo, nossa vida  foi agitada. Eu não conseguia descansar direito ou dormir sem precisar me preocupar, pois não podia sair de perto de minha mãe.  Durante o dia ela ficava me chamando, corria perigo de cair do sofá onde passava o dia, pois ficava agitada. Eu não conseguia cozinhar limpar a casa, ou lavar as roupas.   A tia Jacira me socorria no que podia, houve pessoas amigas que, entendendo nossa situação, procuravam nos ajudar no que podiam.  Durante a noite ela debatia-se muito com dores nas pernas e nos pés, formigamentos, e mal-estar.  Então buscava a minha ajuda... Vendo a nossa dificuldade, a minha prima Mariângela, veio me ajudar uma tarde e então eu pude descansar um pouco, porém ela não podia fazer muito, pois tinha a sua família, com dois filhos pequenos para cuidar. Mas o que fez, me ajudou muito e agradeço a Deus.
 As vezes pensamos que não vale a pena darmos o mínimo de ajuda para alguém que precisa muito, e nos enganamos porque, se o fazemos de coração é muito importante.  Deixo aqui desde já, o meu agradecimento a todos os que nos ajudaram quer sejam meus familiares, quer sejam os meus amigos.  Benditos sejam todos e que o Senhor os recompense.
Em todo tempo ama o amigo e na angustia nasce o irmão.”(Provérbios 17: 17) É bom lembrar aqui que eu nunca estive sozinha. Noite e dia sem parar, sem descansar, estava comigo o Senhor Jesus, pois Ele é o maior e melhor amigo.  Pude ver através de cada pessoa, quer fosse de minha família ou não, a mão do Senhor me ajudando.
É bom dizer aqui que o Senhor quer ser seu amigo também, e se você, amigo leitor, diz ser amigo do Senhor Jesus, lembre-se: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Antes tenho vos chamado amigo, pois tudo o que ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer.” (João 15:14 e 15).
Foi Jesus mesmo que proferiu estas palavras!


DIFICULDADES DIVERSAS
      

 A mamãe recuperava-se lentamente, a cada dia que passava. Com fisioterapia que fazia desde que deixou o hospital, ela estava reaprendendo movimentos muito importantes como: andar, equilibrar-se, alimentar-se, etc... Contudo era tudo muito difícil para ela e a vigilância por minha parte deveria ser constante. Sem salário, eu não podia completar o nosso orçamento. Não podia sair pra trabalhar, e o que a mamãe recebia era insuficiente para nos manter, pagar o aluguel, luz, água, remédios, etc... As dificuldades eram grandes. A igreja Presbiteriana Independente nos ajudava no que podia; meus tios também faziam o que era possível. O chefe nacional do Exercito de Salvação, conhecendo a necessidade que passávamos enviou dois oficiais salvacionistas até lá para nos fazer uma visita e trazer uma proposta.


         OFERTA SALVADORA

Eu estava olhando para a rua, pela janela de nossa sala quando de repente surpresa que em um carro que passava pareceu-me que seus ocupantes usavam uniforme que me era tão conhecido, tão singular. Corri para o portão, enquanto o carro fazia a manobra, logo adiante, para retornar e estacionar em nosso portão. Eu não havia me enganado. Este carro trazia a tenente coronel Ruth Wakai e o então major Ernest Hofer. Que alegria! Era para mim um colírio para os olhos, ver diante de mim estas duas pessoas tão amigas e tão queridas por nós. Você já pensou como isso é prazeroso? A gente está em dificuldades, saudosa, e quando menos espera nos vem visitar pessoas que amamos tanto. Eles me trouxeram uma oferta irresistível: voltar ao oficialato, levando comigo a mamãe e trabalhar em Campos do Jordão auxiliando os administradores e cuidando da mamãe.


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

CAPITULO XII – TRISTE RETORNO

CAPITULO  XII – TRISTE RETORNO


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DERRAME

O prezado leitor, sabe o que é um derrame? Chamado de AVCI-(acidente vascular cerebral isquêmico) ou AVCH (acidente vascular cerebral hemorrágico).
O AVCI- pode ser causado por vários motivos. A isquemia – conforme Aurélio –“supressão da circulação sanguínea em determinada parte do organismo”. Um coágulo pode correr a circulação e enquanto estiver percorrendo vasos com calibre maior de nada faz e pode ainda ser dissolvido sem  causar qualquer dano, contudo, no momento em que ele alcançar vasos menores poderá interromper a corrente sangüínea em toda a rede vascular a partir do ponto em que o coagulo, ou embolo, enroscou, aí toda área que estiver essa rede sangüínea, deixa de ser  irrigada e pode vir a perder a sensibilidade, função e a vida.
Quando isso ocorre no cérebro, então a pessoa perde determinadas funções dependendo de onde se localizou o coagulo ou embolo.  Então dizemos que essa pessoa sofreu um AVCI ou derrame cerebral isquêmico.
O AVCH – acidente vascular cerebral hemorrágico ou derrame cerebral hemorrágico, onde há o rompimento de vasos sangüíneos dentro do cérebro, causando um coma ou morte.  Resultado de PA (pressão arterial) elevada.
O AVC realmente não mata, ele abre a porta para outras enfermidades, pode acelerar a senilidade, ou seja a esclerose, se a pessoa já tiver tendência para tal.  Também enfraquece de forma que a pessoa acometida por AVC fica exposta a fortes gripes, pneumonias,  fraturas pelas quedas sofridas devido a falta de equilíbrio, etc... além de causar sofrimento porque as outras pessoas não entendem, não tem paciência e exigem uma atitude mais coerente do doente sendo que ele não tem mais tal capacidade.  Há fleches de memórias, que podem ser raros ou até mesmo inexistentes.


VIDA INDESEJADA


Na verdade não era esta a vida de lutas com a saúde, de ver meu tesourinho prostrada sob o efeito de tão grande derrame, que sonhei, orei e que sempre almejei viver. Meu sonho era ver minha mãezinha bem idosa, ainda andando sozinha mesmo que fosse sobre o seu bordão, falando, cantando e aconselhando com suas sabias palavras.   Como sería lindo poder dizer:

 ─ Vejam esta velhinha, tão doce, é a minha mãezinha !

Orava sempre para que o Senhor lhe desse saúde.  Ele me falou quando eu estava com apenas 4 anos e meio que ela iria viver mais 100 anos...! Agora ela estava doente.....Foi o Senhor quem nos criou, quem nos formou, quem idealizou cada célula de nosso corpo. Se Ele quisesse, podería recuperar as células danificadas e mortas do cérebro de minha mãe. Disto eu nunca duvidei.  Porém Deus sabe o que faz e nós sempre confiamos Nele.  Não sería agora que nós deixaríamos de confiar , porém, mais do que nunca confiaria no Senhor.  O que somos nós para discutir com o Criador? Quem sou eu para cobrar do Senhor qualquer coisa que seja? Ele sabe todas as coisas. “Muitos propósitos há no coração do homem, mas o desígnio do Senhor permanecerá.” (Provérbios 19:21).  E também  se vivemos no mundo sofremos as conseqüências do mundo.  Somos matéria, somos carne e assim temos que enfrentar os problemas que isto nos traz, contudo sabemos que a nossa luta está diante do Senhor  porque “Ele mesmo tomou nossas enfermidades e carregou com as nossas dores” (Mateus 8:17). Não estamos sozinhos o Senhor Jesus está conosco, ao nosso lado nos ajudando. “Eis que estou convosco até a consumação do século.” (Mateus 28:20)  É a Sua promessa e eu sempre cri, e o Senhor nunca nos abandonou... No mundo passais por aflições; mas tende bom animo; Eu venci o mundo.” (João 16:33) Disse Jesus.

QUADRO TRISTE

 Deparei com a minha mãe, deitada ali, naquela cama do hospital protegida por uma taboa para que não caísse e tivesse resultados traumáticos.  Olhando para o seu rosto amado com hematomas no lado esquerdo, pois a taboa em seu leito não a segurou quando em suas agitações, ela caiu da cama, eu ainda não entendia bem toda a gravidade do estado de saúde de minha mãe.
O médico que cuidava dela, deu alta no dia seguinte, antes porém,  explicou-me como eu deveria cuidar dela, dizendo que ela não andaria mais e mostrou-me que ela não tinha coordenação no corpo. Quadro triste este, ver a minha querida mãezinha amarrada na poltrona, sem coordenação motora e com a sua mente completamente confusa.  Lembro-me que ao subir as escadas que davam acesso à enfermaria da ala feminina, onde ela se encontrava, pude ouvir a sua voz que me chamava...
─ Tide, Tide, Tide,...me tire daqui; Tide, Tide,...     Quando cheguei ela me olhou  com seus olhinhos pidões e me implorava que a desamarrasse.   Soube que ela brigava com as enfermeiras dizendo que elas iriam ver, quando eu chegasse....
─ Deixe minha filha chegar, ela vai me soltar.... Completava.  Mas como desamarrá-la? Eu não poderia atender ao seu apelo. Pude observar no seu rosto amado, a sua expressão de desilusão....
Porém, logo pude levá-la para casa.

AS VOLTAS COM A SERPENTE


Deus sempre cuidou da mamãe. Como fôra durante  a sua vida, ela confiando em Deus e me ensinou desde de que eu era pequena a confiar nesse Deus maravilhoso que ama e que não abandona aqueles que nele confiam.
Quando eu fui para o colégio de cadetes, a mamãe foi morar em Itanhandú - Minas Gerais a convite de uma antiga conhecida, que lhe ofereceu casa com promessas de trabalho para o Senhor.  Chegando lá as coisas foram diferentes do que ela pensava. Não aceitando trabalhar como doméstica a troco de moradia, a mamãe resolveu se mudar, depois de algum tempo encontrou trabalho de costureira em uma confecção e alugou uma casa para ela. Assim ela morou em lugares diferentes, na cidade de Itanhandú - Minas Gerais. Ora morava sozinha em uma casa pequena, ora morava na casa de alguém em cômodos que lhe eram alugados, ora era porão habitável, ou uma casa de parede-e-meia. Em todos os lugares que ia , era benquista e amada.
Houve uma casa em que ela morou, para ser bem clara, um porão, que ficava próximo a rodovia e para entrar precisava passar por um carreiro entre a vegetação, que era mais um capim misturado com ervas daninhas. Lugar que escondia muitas cobras. Um dia ela estava chegando em casa, distraída, quando sentiu que algo se debatia entre os seus pés. Assustada pulou para traz e viu que havia se envolvido com uma cobra bem grande, que também parecia assustada. Como era de seu principio não destruiu nada, não desejou matar a pobre cobra. Então começou a falar com ela:
─Vá embora! Vá. Em nome de Jesus, vá embora. Eu não vou te fazer mal. Vá embora, em nome de Jesus. 
Depois de algum tempo de “conversas” com esse bicho, e de repetir a ordem “em nome de Jesus”, a serpente foi pelo caminho e lá mais na frente entrou no mato e sumiu para sempre. Mais uma vez o cuidado do Senhor foi real e presente na vida da minha mãe.


DE VOLTA A PORTUGAL


No dia 26 de junho de 1989, retornei a Portugal após dois meses que passamos juntas, nas férias. Recebi nova nomeação para ir trabalhar na cidade do Porto em uma de nossas igrejas. Mais uma vez comecei a me afligir com falta das cartas da mamãe, eu escrevia para ela mas não recebia resposta. Como já escrevi anteriormente nós nos correspondíamos semanalmente. Por minha vez eu enviava fotos, cartões, tudo que pudesse alegrar o coraçãozinho amado da mamãe.


NOTÍCIA TRISTE


Como eu ia dizendo, a falta das cartas estava me inquietando e preocupando. O que estava acontecendo? Porque a mamãe não me escrevia? “meu Deus o que esta acontecendo?” orava eu e pedia ao Senhor para protegê-la. Depois de algum tempo veio a tão esperada cartinha, porém a notícia que trazia não era boa.
A mamãe contou-me que a sua irmã, fora chamada a presença de Deus, nove dias depois da minha viagem, a tia Vasni partira de repente para o além... Li nas entrelinhas  a dor e tristeza de minha mãe. Dos seis irmãos, agora parte para o além a 1° deles. 
Para a mamãe foi muito difícil. 
Sentindo no coração a dor da separação e o sofrimento da mamãe, me preocupei.  Senti que ela estava se sentindo só e como eu desejei estar com ela naquele momento para que ela pudesse deixar sair a sua tristeza e abrir o seu coração, derramar a sua alma. Mas eu estava tão longe... Precisei mais uma vez entregar tudo ao Senhor e implorei o seu socorro para o meu tesouro. Meu desejo era estar ao seu lado afim de conforta – lá e cuidar para que a dor fosse um pouco mais leve, porém eu sabia que o meu Senhor cuidaria dela, Ele já o tinha feito anteriormente e eu sabia que mas uma vez  poderia confiar.


FÉ PROVADA


Mudei-me para a cidade do Porto a fim de cumprir  a “Ordem de Marcha”, ou seja, obedecendo transferência. Dediquei-me ao trabalho,porém sempre correspondendo com a mamãe e quando me era possível telefonando para ela. Nesta época, havia começado um trabalho no Presídio de Coimbra, trabalhando de visitação por que não era permitido fazer cultos, pois era um presídio de segurança máxima. Tínhamos um jovem que havia escrito para o nosso chefe do comando pedindo nossa visita então este trabalho me foi confiado e desde Lisboa eu comecei estas visitas mensais aonde líamos a Bíblia, cantávamos e orávamos.
O jovem tornou-se soldado do Exercito de Salvação e um missionário dentro do presídio, sendo o nosso porta-voz entre os seus companheiros. Então eles me escreviam e eu respondia enviando cartas pastorais a todos que demonstravam desejo de recebê-las. Escrevia a cada um  individualmente. Todos os meses o número de presidiários que desejavam receber as nossas cartas aumentavam.
Naquela semana eu estava para os reclusos de Coimbra, quando me senti perder as forças e a tremer violentamente e o meu coração parecia querer sair pela boca. Quase sem forças, debrucei sobre a maquina de escrever e implorei o socorro de Deus, pois senti que algo estava errado como minha mãe. Sai da sala e fui cair de joelhos em lágrimas implorar o socorro de Deus para minha mamãe. Depois mais calma fui terminar de escrever as 80 cartas.
Naquela noite procurei falar com a mamãe e não conseguia encontrá-la, cheguei a pensar que o tio Julinho estava me escondendo alguma a verdadeira notícia, porem em nova ligação consegui ouvir a doce vez de minha querida mãezinha, e tranqüilizei o meu coração. Perguntei-lhe o que estava acontecendo, ao que me respondeu que não se sentia muito bem e havia ido ao médico com problemas renais.
No dia seguinte senti novamente o mal-estar e novamente orei ao senhor. Na mesma semana tivemos uma viagem por lugares históricos levando conosco os idosos do centro de dia (centro de convivência para idosos) a minha colega capitã Arlete era administradora deste centro de dia e que programou este passeio e eu fui com eles. Visitamos vários lugares no Norte de Portugal e quando voltávamos a capitã. Arlete foi telefonar ao esposo pois estávamos demorando mais do que pensávamos. Ao retornar ela me disse que o Major Parker (chefe de comando) estava me procurando. Nesse momento senti sumir o sangue e gelar o corpo todo e exclamei.
─ Minha mãe! Meu Deus minha mãe.....
Eu sabia que algo estava errado. Não via a hora de chegar na cidade do Porto, de volta e poder falar com o major Parker, logo...como demorava a viagem! Em fim, chegando lá recebi a notícia triste: A mamãe havia sofrido um violento derrame (AVC) e estava muito mal no hospital.


          MOMENTO DE CONFIAR EM DEUS.


Senti que iria perdê-la e eu tão longe... Agora o que fazer? chorei muito. Meus colegas se preocupavam comigo e me apoiaram no que podiam. Com tudo este era o momento de confiar em Deus. Não era o momento de se desesperar. No dia seguinte eu havia marcado a visita no presídio em Coimbra e não queria deixar de fazê-la. A capitã Arlete ficou procurando passagem para que eu pudesse retornar urgente para o Brasil, porem não havia lugar nos vôos. De Portugal partiam dois vôos para o Brasil porem estavam todos lotados ate o dia 11 de outubro e estávamos no dia 28 de setembro. Era muito tempo...Tentei conseguir por Madri-Espanha e também não havia mais lugar, todos os vôos estavam lotados. Na segunda-feira conseguimos contratar um amigo que trabalhava com turismo então, através dele, Deus nos abençoou com uma passagem naquela noite. No dia primeiro de outubro, ás 12,45h eu chegava em Sta. Cruz do Rio Pardo-SP e menos de 10 minutos depois estava junto de minha mãezinha, no hospital. Na rodoviária estavam meus tios: Julinho e Jacira me esperando para me levar em casa e depois ao hospital.